quarta-feira, dezembro 27, 2006

meu coração não quer deixar meu corpo descansar...

Uma Canção Desnaturada


Por que creceste, curuminha

Assim depressa, e estabanada
Saíste maquilada
Dentro do meu vestido
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo
Pra reviver a tempo
De poder
Te ver as pernas bambas, curuminha
Batendo com a moleira
Te emporcalhando inteira
E eu te negar meu colo
Recuperar as noites, curuminha
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro
E cuidar só de mim
Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
Vestir-te com desleixo
Tratar uma ama-seca
Quebrar tua boneca, curuminha
Raspar os teus cabelos
E ir te exibindo pelos
Botequins
Tornar azeite o leite
Do peito que mirraste
No chão que engatinhaste, salpicar
Mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído

(Chico Buarque)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

repetição insignificante


" Entre as verdes folhas do avarandado
entre as velhas telhas do elho sobrado
entre as luzes dos faróis nas duas mãost
odo canto em que estou você está
Pelos campos entre a relva e a liberdade
entre as torres de concreto na cidade
na incerteza do universo em que estou
todo canto em que estou você está
O seu vulto me persegue
pelas noites mal dormidas
O primeiro pensamento da manhã
é você
As olheiras tão marcadas
minha voz rouca e cansada
O primeiro sentimento do amanhã
tem que ser você
O primeiro pensamento da manhã
O primeiro sentimento do amanhã "
(Zé Geraldo)

segunda-feira, novembro 20, 2006

doida doida doida!


Quando em teu colo deitei a cabeça, meu camarada, a confissão que fiz eu reafirmo,o que eu te disse e a céu aberto eu reafirmo: sei bem que sou inquieto e deixo os outros também assim, eu sei que minhas palavras são armas carregadas de perigo e de morte, pois eu enfrento a paz e a segurança e as leis mais enraizadas para as desenraizar, e por me haverem todos rejeitado mais resoluto soudo que jamais poderia chegar a ser se todos me aceitassem,eu não respeito e nunca respeitei experiência, conveniência, nem maiorias, nem o ridículo, e a ameaça do que chamam de inferno para mim nada é, ou muito pouco, meu camarada querido: eu confesso que o incitei a ir em frente comigo e que ainda o incito sem a mínima idéia de qual venha a ser o nosso destino ou se vamos sair vitoriosos ou totalmente sufocados e vencidos.
Walt Whitman (1819-1892)

sábado, novembro 11, 2006



Para a menina mais rara que cruzou meu caminho.






"Pela marca que nos deixa
A ausência de sol que emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar
Doido corpo que se move
É a solidão nos bares que a gente frequenta
Pela mágica do dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do seu medo
Eu conheço inteira sua fantasia
E é como se fosse pouca
E a tua alegria não fosse bastar
Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música que a gente ria
É tudo que eu cantaria
E quando eu for embora, você cantará"

(Oswaldo Montenegro, Estrelas)

segunda-feira, outubro 23, 2006

e chega!

"Já passou, já passou
Se você quer saber
Eu já sarei, já curou
Me pegou de mal jeito
Mas não foi nada, estancou
Já passou, já passou
Se isso lhe dá prazer
Me machuquei, sim, supurou
Mas afaguei meu peito
E aliviou
Já falei, já passou
Faz-me rirHa ha ha
Você saracoteando
Daqui prá acolá
Na Barra, na farra
No forró forrado
Na Praça Mauá, sei lá
No Jardim de Alah
num clube de samba
Faz-me rir, faz-me engasgar
Me deixa catatônico
Com a perna bamba
Mas já passou, já passou
Recolha o seu sorriso
Meu amor, sua flor
Nem gaste o seu perfume
Por favor
Que esse filme
Já passou"

(Chico Buarque_Já passou)








E vê se me deixa em paz ...

terça-feira, outubro 03, 2006

Melodrama II

Eu já quis você assim pintando sorrisos em tudo que soa melancólico ou que envolva o silencio de quem já vai em mim.
Hoje meu amor eu já não quero mais você ou sua voz, eu não quero essa vontade de matar e de morrer quando você me olha e finge não ver tudo que eu sou.
Eu rondo tudo que temo e sempre caio; confessional, perdida no seu olhar.
Porque a minha saudade masturba sua ausência sem fazê-la gozar.
Eu não sou o que querem que eu seja e o que ando sendo não se parece com o que eu sou.
Eu acordo e procuro, procuro as verdades e as bobagens que nos unia, vejo meus olhos nos espelhos e me lembro o quanto somos iguais, e dói!
Depois de doer eu limpo o sangue e ah! os deuses sabem o quanto eu tentei te apagar daqui, tirar suas frases cravadas em meu peito, engolir essa fumaça; tragando todo o meu remorso.
Eu já quis você assim acreditando no que eu inventei, beijando a miséria das palavras que eu não falei, supondo meus passos; e não os cultuando como se só caminho a seguir fosse o que me resta agora.
Eu já quis sua mão embriagada, pousada na minha sanidade, eu já quis a cor das suas íris nas paredes do meu quarto.
Meu amor, eu já quis você como verso quer sangue, como domingo quer indiferença, quis como a solidão quis o outrora no jornal de hoje.
Não que não te queira mais, não que eu não te queira amar...
Não nos acredito mais, não bebo mais dos anseios e não cruzo minhas íris com as suas pra que não notes que tudo em mim grita seu nome e que a pancada que me destes nos olhos não os deixa fechar, nem sonhar.
Eu atiro no escuro e acerto em cheio qualquer bom agouro que ousava neste quarto entrar.
Existe sim aquela verdade que dizia mais alto tudo o que não queríamos ouvir, aquela que procurávamos ou não.
Eu sinto um peso maior sobre meus olhos, um tormento novo numa terra estrangeira, e ainda é tão difícil suprir com essa incerteza o que chamavas de boa intenção.
Por Amanda Cristina Carvalho numa noite de agosto qualquer de 2006.

Melodrama

Porque sobre meus olhos pesa essa resignação de te amar e desejar ver-te cada dia mais longe, cada dia mais meu; mesmo entre ruas longínquas; encostado em muros onde eu nunca escrevera meu nome, onde meus insetos nunca tentaram abrigo.
Por tanto tempo eu quis uma espécie de dádiva, de vento que dissesse alguma coisa doce, sempre sondando o medo que não foi meu; para tentar me manter aqui dentro do quarto, fazendo cortes e desenhando na minha alma que desonrada resolveu voltar pra mim.
É tão miserável essa condição de se comprimir num sorriso, de guardar o passado entre os dentes amarelos.
E essa nostalgia de borboleta, como de quem vive vinte e quatro horas e precisa abandonar as lembranças e dizer que era mesmo vida que escorria de seus olhos, quando não era.
Mas agora eu tenho uma nova miséria que aparece quando eu sinto o sangue descer a garganta, quando blasfemo da minha sorte e te vejo passar.
Por Amanda Cristina Carvalho em alguma noite de agosto de 2006.

sexta-feira, setembro 15, 2006

eu tive fora uns dias...


Por todas a esquinas saí um bicho grande e feio e corre atrás de mim, eu corro dele pra ele não ficar sem graça, mas não tenho medo.
Eu não tenho medo de nada.
“Agora me beija de verdade e ouve com atenção tudo que eu quis te dar...!”.
E tantas palavras me vêm a mente e eu só queria poder desenhar, por todas as minhas paredes, pra deixar marcado mais um dia em que você salvou minha vida sem que ninguém te dissesse do perigo, sem acreditar no perigo.
Você me anula o pensamento.
Mesmo que eu não entenda do que sinto e nunca vá entender.
Fica essa luz por entre os fios dos cabelos.
Eu tiro as folhas da minha roupa, caminho com calma e o bicho atravessa a rua: decepcionado.

quinta-feira, agosto 31, 2006

"Enquanto eu tiver a mim... e os meus vícios, acho que está tudo bem, enquanto não houver motivo, Deus deixa estar por aqui..... Apreciando um pouco mais, as imagens que se formam, nos cacos de vidro, pelo chão......... Enquanto eu tiver a mim... e um pouco deste vinho, não importará o destino dos seus pés..... eu cansei de seguir as mesmas pegadas, se elas nunca me levam pra onde eu quero ir................................................................... ............................................................................................................................................ e quer saber? sempre enxerguei coisas de mais... Dentro de você......... coisas que já não importa mais.....................................................mais..................................... enquanto eu tiver a mim e os meus vícios............................. eu não preciso de ninguém............................ eu não preciso de você...... eu não preciso............................................................ eu não preciso................................................"

terça-feira, agosto 29, 2006

lá lá lá...

" Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu queria amar o que eu amaria - e não o que é. É também porque eu me ofendo a toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim.Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente.Talvez eu tenha que chamar de "mundo"esse meu modo de ser um pouco de tudo. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário(...). Eu que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu."(Clarice Lispector)

quarta-feira, agosto 16, 2006

oh!

"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la.
"Eu te odeio" disse muito apressada.
Mas não sabia sequer como fazia.

C. Lispector

domingo, agosto 13, 2006

Necessidade de auto-afirmação?

"(...)E vem você
Me olha através da cortina do tempo
Me pega sentado no palco da vida
Tão fraco e indefeso
Marcas desse nosso tempo
E vem você
Que faz do meu canto um canto de paz
E eu tão tapado coitado até penso
Que o meu Negro Blues
é folclore de Minas Gerais "


Como já dizia minha mãe: "Filha você é estranha, não se pode passar a vida assim; vendo ela passar, esperando sabe lá o quê...".
Ela não entende, eu não entendo.
É tão trivial esse assunto que eu o desprezo, odeio os clichês e as trivialidades.
Eu queria escrever sobre a Amanda Cristina Carvalho hoje, mas eu nunca sei em que discurso eu fico; direto ou indireto.Em qual sujeito me classifico, simples, composto ou oculto.
Hoje é dia dos pais.
Estou neutra aos meus sentimentos, e contendo meus pensamentos que são mais bizarros e surrealistas do que um filme de Buñuel.
Eu sinto que estou sempre alimentando os mesmos cães que me feriram.
Eu sinto, sei, penso.
Mas não saio daqui.
Eu sempre fico pra ver o final, mesmo que ele for eu nua e exposta em praça pública pra toda e qualquer chance de me camuflar na minha arrogância se perder, tão precisa quanto um tiro.
Eu só funciono assim, quando eu já disse e fiz tudo que podia e o que não podia.
Arredia e patética num limite de bomsensopseudoliterário.
Já percebi como as pessoas reagem a um murro, sem precisar sujar minhas mãos!
É pra falar de medo, a gente fala de medo, mas se é pra inspirar coragem, eu tiro os sapatos e piso nas pedras, me corto na lâmina da impressão.
Mas eu caio e passo meus anos no tapete verde do mundo que é só meu, observando a vida lá fora.
Eu estou me sentindo de outra espécie, eu já não peço explicação.
Arrebenta essa corda quem tiver coragem e vem aqui me dizer quem eu sou quando eu faço tudo e todos virar contradição.
Se eu incomodo é porque existo, é porque sou de verdade.
É real quando eu tropeço pelas ruas com as lágrimas nos olhos e os gritos deixados em algum outro olhar se tornam apenas ecos do que eu sentia.
É real mesmo que por engano, por doses de mágoas* a mais. É pra me ver morrer mesmo.Mas sem o peso do amor -em vias erradas- pra quando eu for ressucitar.



sábado, agosto 12, 2006

Dos três mal amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita,
o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos,
o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso,
a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra,
meu dia e minha noite,
meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

(Lirinha)

sexta-feira, agosto 11, 2006

torneira aberta.

"(...) Eu... A andorinha
contou que,
sozinha, canta, mas não faz verão.
Tem boi na linha.É o mesmo trem, a mesma estação.
Resumindo: -Até logo, eu vou indo.
Que é que estou fazendo aqui?
Quero outro jogo,
que este é fogo de engolir. "
(Belchior_Depois das seis)



-Dá pra ouvir daí?
Não, não, é mais embaixo.
Isso, bem aí.
Pega esse pedacinho do meu coração pra mim e manda ele parar de cantar Tom Waits.
Já não basta os outros que declamam Florbela Espanca bem ás cinco da manhã.
Estou tentando juntar todos e calar os risos das paredes do meu quarto que ironizam alegres as noites que passei longe.Vou reunir todos os pedaços e ter de volta meu coração.
"Toda caixa guarda alguma coisa, mesmo que o vazio, mesmo que o silêncio de um morto."
Ah!
Todos os clichês são válidos porque toda a poesia não bastou.
Como duas pessoas tão iguais podem se tornar tão distintas quando é preciso deixar tudo pra trás?

sábado, agosto 05, 2006

como antigamente...

Entre o autor e o público, posta-se o intermediário.
E o gosto do intermediário é bastante intermédio, medíocre.
Medianeiros médios pululam nos meios, onde, galopando, teu pensamento chega.
Um deles considera tudo sonolento:
"sou homem de outra têmpera! perdão", e repete um só refrão:
"O público não compreenderá".
Camponês, só viu um faz tempo, antes da guerra.
Operários, deu com dois, uma vez, numa ponte, vendo subir a água da enchente.
Mas diz que os conhece como a palma da mão.
Que sabe tudo o que querem!Aqui vai meu aparte: chega de chuchotar bobagens para os pobres. Também eles, podem compreender a arte.
Logo, que se eleve a cultura do povo! Uma só, para todos.
(Maiakovski)

quarta-feira, agosto 02, 2006

Frases soltas (ao seu gosto honey)

Tantas mentiras.
Tantas vontades.
Lembrança que corre com um pedaço de giz marcando a parede da minha sanidade.
Faz frio aqui, e eu gosto desse frio quando ele parece comer minhas entranhas de forma carinhosa e simpática.
É tão bom quando algo nos come de forma carinhosa e simpática, mesmo que seja somente o frio.
Precisamos ser comidos, é antropofagia sã que nos move na maioria das vezes.
Eu estou com medo.
Medo do meu medo não caber mais dentro de mim.Medo de não caber mais naquela cidade, medo de acordar sempre cedo, medo de não dormir mais, medo de ver que a culpa sempre foi minha e que eu estava mesmo correndo pro lado errado quando eu jurei que era mesmo pra lá que eu tinha que ir...
Eu não quero mais essas frases soltas via e-mail, eu não quero mais esse tormento na minha caixa de entrada, porque eu realmente o amo, e esse tempo e distância parece anacrônico ao que nos fazia ser apenas duas almas que se entendiam, pai e filha!
Odeio me sentir como um peixe pescado, já disse isso certa vez.
Preciso do outro lado da lua, não desse que é permitido ver.
Preciso do outro lado da rua, aquele em que te deixei e fui cortar minhas asas pra voarmos somente com as suas...
Mas as suas eram roubadas...
Eu odeio tanto ter que te odiar pra continuar amando ao que me resta.
“Ódio é que nem escrito, só envelhece”.
Eu não sei ser quem eu era pra te alegrar.
Eu não sei alegrar mais ninguém.
Eu queria fugir, mas nem lá no meu refúgio eu tenho mais paz.
Estão roubando o que eu tenho de melhor e guardando numa caixa de plástico (e tanto que eu odeio plástico!).
Não faz sentido o sentir que me sentia entrar seis e pouco da manhã no quarto quente: o sono que engolia a alma.
Ta aí, mas alguma coisa comida.Mais alguma coisa roubada.
A saudade já não me tem o mesmo efeito, acho que perdeu o lirismo com o tempo que me fez perder algumas outras coisas que não podiam ter sido perdidas.
Não quero mais ninguém por perto por hoje.
Eu precisava dessa paz que me levaram, eu precisava daquele dinheiro ao qual me privaram.
Não era nada disso que eu queria escrever.
Não era nada disso que eu queria sentir.
Não era de ti que eu queria lembrar.
Não era essa dor que eu queria celebrar.
Não era essa cidade que eu queria nomear.
Não era esse verme que eu queria pra comer meu cadáver ainda vivo.
Não era desse pássaro que eu queria retirar a asa pra te dar e te ver voar pra bem longe de mim.
Não era com esses olhos que eu queria te reencontrar.
Não, não era!
Juro por todos os fenecidos que não era...

terça-feira, agosto 01, 2006

depois das cinco...




"Da primeira vez..."
Mário Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela amarelada...
Como único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca,
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

quarta-feira, julho 26, 2006

"A chuva engorda o barro e dá de beber aos mortos."

Começo a acreditar.
Acreditar é estranho quando nunca se acreditou em nada.
Mas não acredito assim com essa fé forçada e vomitada, nem sei mesmo se acredito.
Acho que não acredito mesmo.
Não acredito em você, pássaro de asas roubadas, não acredito no jornal, nem tão pouco no Drummond:
"Figurinha esquisita essa aí, não!? Menina que não sabe sorrir e dorme pelos cantos...", diria ele.
Mas pouco importa agora quem quebrou o vaso, quem sujou o tapete ou quem disse eu te amo primeiro.
"Alguém disse eu te amo?"
Como diria o Cheisquesper, muito barulho por nada!!!
Passa.
Vaza.
Escapa de mim.
...

terça-feira, julho 25, 2006

PORQUE DOEU UM BOCADO...




















A Fé Solúvel
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli


É, me esqueci da luz da cozinha acesa
de fechar a geladeira
De limpar os pés,
Me esqueci Jesus!
De anotar os recados
Todas janelas abertas,
onde eu guardei a fé... em nós
Meu café em pó solúvel
Minha fé deu nó
Minha fé em pó solúvel
É... meu computador
Apagou minha memória
Meus textos da madrugada
Tudo o que eu já salvei
E o tanto que eu vou salvar
Das conversas sem pressa
Das mais bonitas mentiras
Hoje eu não vivo só... em paz
Hoje eu vivo em paz sozinho
Muitos passarão
Outros tantos passarinho
Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça me um favor
Um favor... por favor
A razão é como uma equação
De matemática... tira a prática
De sermos... um pouco mais de nós!
Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça me um favor
Um favor... por favor

"Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say"











HOJE EU NÃO VIVO SÓ EM PAZ!

domingo, julho 09, 2006

.comida pra rato.

O Frio Especial


O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre.


Álvaro de Campos

segunda-feira, julho 03, 2006

Colheita

Cores turvas no espelho,
a colheita dos meses frios,
e o amor que tarda e vinga cortando os dedos.
Pensas mesmo que termina em febre sem chaga essa doença que nos consome?
Suores noturnos: insone a tentar ressuscitar-me,
e dispensas o doutor louco em fúria
que sabe da temperança e da tormenta que nos comove,
e bem sei que comeu com mel minha petulância.
E eu escapo de ti com lágrimas entre os vícios tortos;
minha salmoura contra a dor de nunca poder (querer) voltar,
e era tudo por você até você não mais precisar (sangrar).
Conhece o édito e a perdição,
cada espada e cada lençol,
a solidão agora é hino queimado entre seus beijos que só me diziam adeus...
Segues pelos campos cinzas,
e deixastes cair um pincel, um tempo, um sol,
deixou cair qualquer vestígio de vida que depois das onze fosse me buscar,
mas não, não volta e não fere mais,
economiza os passos...
Faz retalhos nos olhos,
esquece as feridas que o vento secar,
já que dessa vez minha lágrima e saliva não vão bastar.
Cores claras na memória,
lembrar é tão doce que em demasia leva ao desgaste e ao hábito pedante,
por isso me esqueço tanto quando me lembro,
o mundo metade é lembrança e a outra metade invenção,
ninguém vive o que pensa,
e se lembra pensa apenas o que sente: condição!
Amar: ação gritante da danação,
eu e você,
num inferno tão nosso,
que como nossa harmonia
também vão nos cobrar...

Amanda Cristina Carvalho
3/7/06.

terça-feira, junho 27, 2006

analgésicos ou Drummond?

Hoje me deu vontade de pintar um céu de verde, uma parede de preto, vontade cortar os cabelos, punir os opressores da minha solidão em tédio ao mundo.
Vontade estranha de ficar parada na frente do órgão publico mais próximo até que alguém me perguntasse alguma coisa.
Hoje eu não li, hoje eu não consegui pensar em ninguém, nem mesmo nele, sequer pensei em mim.
Sangrando o grande mal do gênero feminino.
Úteros, ovários, trompas, por que vocês existem?
Ah!
Cansada do que é simples, do que é obvio, do que é certo, do que é impossível.
Cansada de ver a vida passando, e cansada de só conseguir pensar em clichês azuis como os olhos que fascinam nas quartas feiras.
Só mais uma vida, só mais uma contradição.
Uma paixão estranha que não sabe ser e nem ficar, e ela vai embora, que as flores estejam na estrada e tenha um blues soando no ar, eu não vou impedir, vá!
Esvaziando-me pra ver o que vai ficar...
Talvez saudade, talvez um sorriso, ausência de lamentos já me bastaria.
Poesia é matéria de lembrança, nunca vale enquanto o que se escreve ainda faz presente.
Não deve doer tanto ser um museu...
Não deve doer tanto vê-la ir...
E se doer agente compra um analgésico ou um livro do Drummond.
Ah!
Alguma coisa deve amenizar...

por Amanda...

segunda-feira, junho 26, 2006

depois das seis...

Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
para poder morrer
desarmo as armadilhas
me estendo entre as paredes derruídas.
para poder morrer
visto as cambraias
e apascento os olhos para novas vidas.
para poder morrer
apetecida me cubro de promessas da memória.
porque assim é preciso para que tu vivas.

H. Hilst

sexta-feira, junho 23, 2006

Dez lamúrias por gole

Isto é só um copo eu não bebi demais
Achei que era diferente e são todas iguais
Escrevi canções sobre ela mil noites sem fim
Deixou-me neste bar a cantá-las pra mim
Doce uuu uuuuuu uuuuu
Eu bebo da garrafa tomo o gin de manhã
Se o Príncipe era um sapo
ela devia ser rã
Eu amo quem eu sei que não me vai amar
Mas só assim me dá vontade de cantar
Doce uuu uuuuuu uuuuu
A dor existe e não dá pra esquecer
O peito insiste e não a deixa morrer
E eu não vou deixar-me beber como gin
E para estar sóbrio não basta só pensar em mim
Oh não
Deus não era isto que eu queria ser
O que me deixa mal
o que me faz viver
Sinto a roupa fria e o corpo dorido
Sinto o cheiro a vinho mesmo sem ter bebido
Nada Uuu uuuuuu uuuuu
Isto é só um copo a boca já me arde
Um homem varre o chão e diz que já é tarde
Senhor só bonne voyage é hora de fechar
E a Lua é mulher que hoje vou abraçar
Doce uuu uuuuuu uuuuu
A dor existe e não dá pra esquecer
O peito insiste e não a deixa morrer
E eu não vou deixar-me beber como gin
E para estar sóbrio não basta só pensar em mim
E eu não vou deixar-me beber como gin

(ortanis violeta)

quarta-feira, junho 21, 2006

Foda-se o que sei e o que eu te ensinei =[

O Gênio Incompreendido




eu sou só mais um gênio
perdido entre os livros da biblioteca pública
que você gosta de ter ao lado
pra se sentir madura
pra se sentir segura
da confusão

eu sou só mais um homem culto e divertido
que você sempre vai levar pros bares pra impressionar amigos
pra se sentir madura
eu sou somente a armadura
na escuridão

pena que nada disso importa
porque eu quero ser o homem que você deseja
quando toma banho
ou quando se masturba
eu quero ser o corpo que você almeja
quando está com fome
ou quando está insone
foda-se o que eu sei
e o que eu te ensinei




eu sou só mais um
por que você vem me chamar?


(Violins)

terça-feira, junho 13, 2006

Nunca mais a cidade, nunca mais você

Sempre que surgia com suas cores e suas vidas enlaçadas - fazendo miséria no intervalo do ser e o esquecer-; a paixão ia tomando a paisagem disfarçada de perfeição.
A menina baixou a guarda, engoliu seu último pedido de clemência para a noite que só fez travestir de luz um olhar - que hoje eu sei - era somente escuridão.
Deixou de ser petulante, perdeu sua arrogância enquanto aquele ser costurava suas iniciais no seu peito aberto; escancarado pra toda aquela sensação de dor tão pungente que trazia seu fim em si mesma; por simplesmente fazê-la sorrir...
E foram tantos os sorrisos, palavras e saliva que ela pensou acumular na alma dele por trazer vigor em estar...
Era uma cidade imensa, tão grande que cabia dentro dela, pobre menina que carregou dentro de si uma cidade engrandecida (com luzes, ratos e cantores de blues taciturnos) por pensar que estaria carregando ele também (como uma raposa que adota cães alimentando com seu leite e sangue tudo que neles faltar); ele e toda aquela agonia quase irritante que sentia ao vê-lo rir da sua falta de paciência com tudo que respirava sem o mínimo de graça perto dela.
No entanto, ele - o menino da língua grande que roubava as estrelas do céu da boca dela, o menino dos olhos (negros) dela - não vivia na cidade que ela engoliu; ele não tinha tempo, não tinha vocação (a maldade nata do sexo masculino quando pensa se unificar com outro exemplar dessa espécie menor), ele não queria e nem podia ficar na cidade engolida pela menina...
Sina? Contradição dos deuses? Ingratidão dos ventos que só nos tocam e se vão? Ou dos que traziam as folhas do lado de lá?
Eu não sei! Eu nunca sei...
Mas não valeu mesmo o desenrolar dos cabelos, não adiantou nem mesmo o desenho e a poesia em linhas tortas, não se fez válida sequer a sinceridade -matéria prima- de cada gesto novo da menina.
Agora correndo entre as mais novas formas de vida, entre os mais caros sorrisos perfeitos, entre as imagens mais superficialmente belas; a menina enfia um resto de estrela garganta a baixo forçando um vômito dolorido, mas é inútil, esse corpo estranho que é a cidade já se perdeu dentro dela, assim como perdidas ficaram todas aquelas chances e olhares que complementaram o outro num vão que parecia terno.
Tudo precisa ser vomitado, mesmo que se perca a bile, mesmo que se perca a si mesmo num gesto bruto de quem descobriu que nunca nada no mundo foi feito pensando em você.

Por Amanda Cristina Carvalho em algum dia de junho de 2006.

A uma passante

A rua ensurdecedora urrava ao meu redor
Alta e esbelta, toda de luto, majestosa na dor,
Uma mulher passou, a mão vaidosa
Erguendo, balançando a bainha e o festão.

Ágil e nobre, com pernas de estátua.
Eu, crispado como um extravagante, bebia
No seu olho, lívido céu que gera o furacão,
A doçura que fascina e o prazer que mata.

Um clarão... e a noite depois! - Fugidia beleza,
De olhar que me fez renascer,
Será que só te verei de novo na eternidade?

Tão longe daqui! Tão tarde! Talvez nunca!
Pois ignoro para onde vais e não sabes para onde vou.
Ó tu que eu teria amado, ó tu que sabias disso.

(Charles Baudelaire)

sexta-feira, junho 09, 2006

AVANTESMAS...

Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, maio 29, 2006

...

O milagre da desintegração

E coma todas essas chances patéticas de ser um sol em meio a tanto cinza de maio.
Chegou da festa e não teve uma máscara para despir; para limpar a lama, como todos lá tinham.
Nunca usara máscaras, nunca ofuscara nenhum sorriso com a sombra negra que todo ser mascarado produz.
Julgou ser amor (amizade em pétalas) as lágrimas em seus olhos: “desculpa eu não me recordava de seu rosto; deixou sua máscara no carro?” - nesse céu aberto se ironiza tudo mesmo.
Não desce a vida, ou a voz da noite para limpar essas feridas abertas, ou nem mesmo o ser maior que as lamberia como quem vê a face do pai num túmulo aberto e fecha docemente os olhos da parte morta no cosmo mundano, que é a mais viva e munida de vigor existente dentro desse ser maior (por hora menor).
Não é venial ver essas muralhas feitas com meus pedaços mais vitais ruírem sem a vênia do meu coração (palhabote fugitivo quando você precisou).
A noite esconde as eivas do meu mundo e as imperfeições do meu rosto borrado com restos de lembranças frigidas, como um escrínio vazio.
Mas eu sou como o meu gato que vê a decadência e a beleza de me sentir caída em lágrimas (três xícaras de chá e fumaça escorrendo do meu sorriso); sou como meu gato que pode saltar alto e se limita a dormir no tapete (a virtude e a desventura de possuir o dom mesmo que enfraquecido e apenas desejar a eclesiástica salvação!).
Engula a seco meu olhar de miséria, com as íris cercadas de desprezo, engula meu sangue frio que esse adeus camuflado de “ate logo” fará ocultar.
Pensando bem...Não precisa engolir, não precisa me tragar e exalar minhas cinzas...
Eu nunca vou caber em ti porque você sobra em mim!
Ah, a vida é ato breve, as lutas são tão cavas de sentido quando um suspenso corpo livre sem luta marcada nas costas nos pergunta: quando o sol for uma estrela menor e tão antiga como as outras o que será que vai nos mover (?).
Porém, é sé literatura!
Nada mais que essa regra sem legitimação, nada mais que pedaços meus depositados em linhas...
É só literatura: minha pretensão solitária.
“O mundo está acabando e ninguém vai perceber; as flores e os vasos, seus medos, meus laços em desalento... No desperdício de alma que é amar...” –sei que não é um sonho, nem poderia me acordar.
Eu e o Chico entregamos os pontos amor...

Por Amanda Cristina carvalho em vinte e oito de maio de dois mil e seis.

sábado, maio 27, 2006

.......meus finais felizes evitados

"Minha miséria tem aproveitado a companhia
e embora eu sinta dor
eu não ameaço ninguém
Às vezes eu me sinto maior do que o que eu tenho compartilhado com você
Às vezes eu me pergunto porque eu reprimo quando não sou requerida para
Eu tentei ser pequena
eu tentei ser reduzida
Eu tentei bloqueos e tudo mais
meus finais felizes evitados
Às vezes eu sinto isso é muito importante para ser verdade
Eu sabotei a mim mesma pelo medo do que minha grandeza poderia causar
Medo da felicidade e medo alegria
Medo de ser importante e consequente solidez
Eu poderia ser dourada eu poderia ser brilhante
eu poderia ser liberdade
mas isto seria entediante
Às vezes eu sinto isto é tão assustador para ser verdade
Eu sabotei a mim mesma por medo de perder você
Medo da felicidade e medo de alegria
Medo de ser importante e consequente solidez
Essa conversa de liberação me faz querer ir deitar
debaixo da coberta até que o terror do desconhecido tenha ido
Eu poderia ser completa
eu poderia ser próspera
eu poderia ser reluzente
parece isolador
Às vezes eu sinto isso é muito bom para ser verdade
Eu saboto a mim mesma por medo do que minha felicidade poderia causar.
Medo da felicidade e medo de ficar feliz
Medo de ser importante e consequente solidez"
(Alanis Morissette)

sexta-feira, maio 26, 2006

Por favor meu ego não dê força ao prego que nos põe contra a parede...


As flores do jardim da nossa casa,
Morreram todas, de saudades de você,
E as rosas que cobriam nossa estrada,
Perderam a vontade de viver,
Eu já não posso mais,
Olhar nosso jardim,
Lá não existem flores,
Tudo morreu pra mim,
As coisas, que eram nossas se acabaram,
Tristeza e solidão, é o que restou,
As luzes das estrelas se apagaram,
E o inverno da saudade, começou,
As nuvens brancas, escureceram,
E o nosso céu azul, se transformou,
O vento, carregou todas as flores,
E em nós, a tempestade, desabou!
Mas não faz mal, depois que a chuva cair,
Outro jardim,
um dia há de reflorir!
(Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

terça-feira, maio 23, 2006

Noite de um único verso

(ao doce menininho)

Você destrói o mundo com poesia, eu compro o mundo com compaixão.
Você revive tudo aquilo que eu feneço com um sorriso cru, irritante (o raspar das unhas nos vidros).
As luzes que nos tocam sem dor; sem bolinar nossos olhos, anunciam que nos encontramos e que toda a miséria eterna do mundo não vai nos humilhar quando você o punir com sua poesia e eu recolher seus versos -extasiados de glória- com a minha compaixão.
Agonia da força na extremidade do seu olhar no meu, pra todo arco-íris que nascer na sua ausência.
Rompi o hímen da minha alma e te desenhei na minha falta de pudor ao te encontrar e sorrir.
Nunca pensei em me encontrar numa desordem de sentir, espera essa chuva molhar meu passado e me cala com sua língua no meu pescoço –pulsando quente tanto quanto minhas artérias que até então eram frias e inertes-.

Por Amanda Cristina Carvalho22/4/06.

sexta-feira, maio 12, 2006

Conto de fodas

Se você deseja mesmo ir vá...Seus passos tão simples e a sua presença chegando em passos lentos; derramados na minha memória e na minha solidão eventual.
Conte tudo o que houve em letras grandes aos deuses antes de adormecer; e eu sei que também é vida o que ousar cair de meus olhos numa futura manhã.
Fadas e encontros de almas só acontecem quando os olhos se fecham e você não deseja que seu desejo se realize, mas que o seu destino deixe de ser uma profecia blasfemada e se torne o instante, o agora que não é que você sonhou, mas o que você precisava e não sabia.
Durma em paz; não na paz do meu amor que não existe, mas na paz de estar deixando meu reino; mesmo que a primavera tardia esteja em vigor.Meu jardim floresce, minha fonte seca e as luzes acendem, me encontrando num trono vazio e com o sorriso mais verdadeiro desse lado do planeta.
Vá em paz, mesmo que ela seja falsa, esqueça os dragões que você teve que enfrentar para estar comigo.A maldição foi desfeita; agora são todos borboletas, eu voltei a ser um sapo e não adianta mais me beijar.
Por Amanda Cristina Carvalho em maio de 2006.

quinta-feira, maio 11, 2006

como diz essa forma geométrica chamada palavra...

(...)
Não queria acumular você em meus braços, mas não me acomodo quando penso que você está apenas de passagem; quero uma lembrança que ainda não tenho, daquela música, daquela opinião, e acumulo tudo isso em uma mesma memória.
(...)

terça-feira, maio 09, 2006

poema de e-cummings

this little huge
-eyed per-
son(nea
-rly burs-
ting with the
in
-expressib-
le
num
-berlessn-
ess of her
selves)can't
u
-nderstan-
d my o
-nl-
y me
esta criancinha de
-olhos esbugal-
hados(qua
-se explod-
indo com a
in
-exprimív-
el
in
-umerosid-
ade de seus
euses) não pode
c
-ompreend-
er meu a
-pena-
s mim
trad. Carlos Loria
in revista Dimensão nº 28/29, 1999, p. 187.

segunda-feira, maio 08, 2006

Feliz Aniversário Veridiana...


O fruto da lascívia da borboleta que não morreu (dessa vez) em vinte e quatro horas

Eu invento a minha própria pílula,
ela não corrói meu estômago,
e nem trás náuseas aos meus protestos de voltar a pensar.
Minha pílula você não consome com todos esses vermes no olhar,
com essa mão fechada,
esse punho tardando o tapa,
e me cuspindo demente indignação.
A alma é livre,
e o corpo que rola e esfola a moral de velhos movimentos também ,
é tudo a escolha, a folha e a bolha
que salta dos meus olhos: bolinando tudo com inocência,
e roubando sem pudor qualquer coisa de você.
Eu invento a minha própria poesia,
a luz que acorda a chama antiga em versos,
eu faço e vendo minhas palavras,
e alegoria dispensável não é a confiança;
silêncio de noites que não rimam.
Eu invento a meu próprio show,
não preciso de talco, palco, de iluminação; chamas frias,
eu faço meu roteiro e minha fala nunca vai ser o que você quer ouvir.
A minha vida eu mesma invento,
reinvento você no intervalo em que eu não souber mais o que inventar,
supro, nutro seus passos que te levam daqui,
meu sorriso é a nave, a chave;
a clave de sol aberto,vivo no nosso jardim.
Meu contorno nas suas palavras;
isso eu não invento,
vento e chovo em você,
passo, largo, escapo por seus dedos;
e tento perceber pra onde esse vão me leva.
E se eu sustento o vôo desse pássaro que tem asa no seu sorriso,
é porque eu nunca vou me encontrar numa sexta feira,
nunca vou deixar a fumaça e essa garoa só por te animar,
e se você não me conhece,
é melhor nem tentar me roubar...
Sou a carta marcada,
a invenção de quem em vida só fez inventar,
vou sempre reinventar curas e fontes da juventude
pra toda lágrima que vadia do meu rosto rolar.
Se a gente não for a própria poesia;
não adianta mesmo tentar inventar,
o amor, a cor do medo,
tudo isso só vinga se você souber olhar,
eu olho e te vejo;
a esfinge é estrangeira,
mas eu entendo a fagulha semi-viva;
é seu medo de não conseguir me reinventar!
Por Amanda Cristina Carvalho em 7 de maio de 2006.

sexta-feira, maio 05, 2006

lamúrias...


"Agora eu durmo tarde
E acordo tarde
E as tardes são assim
Pra mim manhãs
Que passam em velocidade
E ardem como o sol
Que arde
A madrugada inteira
Eu abro os olhos
Eu olho as horas
Eu molho os óculos
E ainda é agora
Eu cato conchas na geladeira
Eu conto estrelas
Depois que o dia nasce
Será tarde?"
(Adriana Calcanhotto)

Já se sentiu como um peixe que acaba de ser pescado?
Os olhos do pescador te engolindo, vendo que tipo de peixe você é, que tipo de lucro você dá...
Odeio essa coisa de ser analisada, de ter que mostrar quem eu sou, mesmo que valha algo em troca.
Eu não sou mais que o que imaginaram pra mim, eu sou bem menos que o que quis ser, mas sou e isso nunca me basta.
Penso em versos e acordos em dó menor.
Queria gostar dela e esquecer o medo, mas eu nunca sei o que estou tentando dizer que quero, quando na verdade, o que mais queria é que tudo que eu quis fosse um desejo dela também.
Mas nunca vai ser mais que um desejo meu, que por vezes se faz tão surreal e patético que eu o esqueço em qualquer canto pra fingir que não é mais meu.
E ainda tem os patos, as estradas e as pestes das crianças que insistem em fazer barulho na rua, como se toda aquela alegria que exalam tivesse passagem livre pela minha janela.
Não reparem esse mau humor de recém desempregado que não encontra emprego em canto algum.
Não reparem nessa frustração pós ensino médio de quem não passou no vestibular e ainda não foi mais do que o que esperavam.
Não reparem nessa má literatura que nada diz e nada muda, é apenas mais um dia pra quem acorda e não encontra o que deixou no lugar de sempre e que nunca está lá quando se procura!

quinta-feira, maio 04, 2006

tua ausência fazendo silêncio em todo lugar...


O Anjo Mais Velho
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli

O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente
"Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar
tua palavra,
tua história
tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
metade de mim
agora é assim
de um lado a poesia o verbo a saudade
do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fime o fim é belo incerto...
depende de como você vê
o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você

quarta-feira, maio 03, 2006

Manifesto Utópico-Ecológico em Defesa da Poesia & do Delírio


De Roberto Piva,

Invocação

Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.
Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia. Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico, nosso espaço vital & dos animais está reduzido a proporções ínfimas quero dizer que o torniquete da civilização está provocando dor no corpo & baba histérica o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos em relação às últimas descobertas científicas no campo da física, biologia, astronomia, linguagem, pesquisa espacial, religião, ecologia, poesia-cósmica, etc., provocando abandono das escolas no vício de linguagem & perda de tempo em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche, Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W. Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn, Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel, São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky, Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis, Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme & por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão sexual, não existindo mais saída a não ser fechá-la & transformá-la em Cinema onde crianças & adolescentes sigam de novo as pegadas da Fantasia com muita bolinação no escuro.
Os partidos políticos brasileiros não têm nenhuma preocupação em trazer a UTOPIA para o quotidiano. Por isso em nome da saúde mental das novas gerações eu reivindico o seguinte:
1 - Transformar a Praça da Sé em horta coletiva & pública.
2 - Distribuir obras dos poetas brasileiros entre os garotos (as) da Febem, únicos capazes de transformar a violência & angústia de suas almas em música das esferas.
3 - Saunas para o povo.
4 - Construção urgente de mictórios públicos (existem pouquíssimos, o que prova que nossos políticos nunca andam a Pé ) & espelhos.
5 - Fazer da Onça (pintada, preta & suçuarana) o Totem da nacionalidade. Organizar grupos de Proteção à Onça em seu habitat natural. Devolver as onças que vivem trançadas em zoológicos às florestas. Abertura de inscrições para voluntários que queiram se comunicar telepaticamente com as onças para sabermos de suas reais dificuldades. Desta maneira as onças poderiam passar uma temporada de 2 semanas entre os homens & nesse período poderiam servir de guias & professores na orientação das crianças cegas.
6 - Criação de uma política eficiente & com grande informação ao público em relação aos Discos-Voadores. Formação de grupos de contato & troca de informação. Facilitar relações eróticas entre terrestres & tripulantes dos OVNIS.
7 - Nova orientação dos neurônios através da Gastronomia Combinada & da Respiração.
8 - Distribuição de manuais entre sexólogas (os) explicando por que o coito anal derruba o Kapital
9 - Banquetes oferecidos à população pela Federação das Indústrias.
10 - Provocar o surgimento da Bossa-Nova Metafísica & do Pornosamba. O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a vida tanto melhor ".

segunda-feira, maio 01, 2006

Ter fé e ver coragem no amor...


“Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: necessidade neurótica de agradar os outros. Necessidade neurótica de poder. Necessidade neurótica de explorar os outros. Necessidade neurótica de realização pessoal. Necessidade neurótica de despertar piedade. Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade. Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida – ô! Deus – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos. E algumas feministas radicais.Tão difícil a vida e seu ofício. E ninguém ao lado para receber a totalidade dos seres humanos, isso nos últimos anos da sua vida sem muita ilusão...A minha tiazinha falava muito na falta que lhe fazia esse ombro amigo, apoio e diversão, envelheceu procurando um. Não achou nem o ombro nem as partes, o que a fez chorar sentidamente na hora da morte, Mas o que você quer, queridinha?! a gente perguntava. Está com alguma dor? Não, não era dor. Quer um padre? Não, não queria mais nenhum padre, chega de padre. Antes do último sopro, apertou desesperadamente a primeira mão ao alcance: 'É que estou morrendo e não me diverti nada!' ”
(Lygia Fagundes Telles)

quinta-feira, abril 27, 2006

Para os mais sóbrios homens de exceção...


E os mesmo passos que nos roubaram parte da vitalidade me trouxeram pra esse ininterrupto medo de ser quem eu sou.
Medo de abrir os olhos e ver que tudo o que se quebra nem sempre parece frágil.
Imediatismo dos sentidos, gritos no escuro, e a mesma estupidez ao notar que toda a sensação que me restar é apenas resto no fim.
Escorrem lentas as folhas dos galhos e a sua estranha forma de me dizer “não”, me acorda.
E dá mesmo vontade de virar um espectro de mim mesma pra não ter mais que ver e ser vista.
Mas o que solta essas amarras e me nutre nesse universo aleatório de almas globalizadas vai além dessas tardes insólitas e tão vulgares quanto cavas.E mesmo que você se esqueça eu vou passear pelo seu silencio sempre que você souber e conter o que tem a dizer.

por Amanda Cristina Carvalho

terça-feira, abril 25, 2006

depois da uma...


Vento de Maio

Vento de maio rainha de raio estrela cadente
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais...
Vento de raio rainha de maio estrela cadente
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover...
Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção
Sol girassol e meus olhos ardendo de tanto cigarro
E quase que eu me esqueci que o tempo não pára
Nem vai esperar
Vento de maio rainha dos raios de sol
Vá no teu pique estrela cadente até nunca mais
Não te maltrates nem tentes voltar o que não tem mais vez
Nem lembro teu nome nem sei
Estrela qualquer lá no fundo do mar
Vento de maio rainha dos raios de sol
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique...

domingo, abril 23, 2006

alma agridoce que nutre a minha alma amarga...


"A vida pode ser comparada a um bordado que no começo vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos."
Arthur Schopenhauer

sábado, abril 22, 2006

O mérito e a lascívia das borboletas


Cada palavra que compõe parte daqueles versos é apenas palavra crua, feita de vazio e dias de sol sem esperança.
Porém, o que corrói meus laços e nossas dívidas imperdoáveis com os deuses vai além do nosso desejo.
Indispensáveis olhares que nutrem uma euforia roubada de algum filme europeu.
E a dor por fim se faz leve como um pensamento de criança.
E seu eu contasse o auge de nossas vidas em linhas tortas, alguém iria sair da sala e em algum lugar do mundo fariam um carnaval.
Acredita no que eu não acredito pra podermos caminhar mais livres em alguma estrada que nosso medo inventar.
Mais tarde, o que se faz puro hoje, irá se perder por nossas mesquinharias e o céu se abrirá nos afastando cada vez mais até que você consiga por fim chorar.
Vulneráveis?
Talvez sejamos.Um pouco mais que nossa espera, talvez sejamos, pouco dignos de nosso passado, talvez sejamos.
Mas o que importa, se quando olhamos pra nós o riso nos compra a alma e fazemos de um verso algo mais que solidão?
O que importa num mundo onde o que brilha é o que menos tem valor?
Deixemos nossos sapatos sujos de barro na porta, deixemos nosso egoísmo lá fora, calemos nossos olhos, pra conseguirmos olhar e finalmente perceber que somos menores que tudo e maiores que eles.
Soluciona sua espera com a minha chegada mesmo que você não veja sentido no que eu sou.
Estou perdida de mim com um sorriso arrogante e sincero no que inventa.

Por Amanda Cristina Carvalho em abril de 2006.

sexta-feira, abril 21, 2006

Não vale mesmo a pena não... ("Eu não sei lidar com você")


Não vale mesmo a pena não
não vale mesmo a pena não
se eu choro é por causa de você
se eu deixo os dias passarem assim
e porque perdi a vontade de viver
alegre ou triste o que é que vai mudar em mim
se você ainda quer estar nos dias que já passaram, não sei
mas sobrou pra mim
permaneço aqui estático
não vale mesmo a pena não levantar e ver

(Estático_Mombojó)

terça-feira, abril 18, 2006

Idiossincrasia



Dos pés nus na terra,
trago a lembrança forânea,
comprou as vestes e despediu-se do vilarejo.
Tantos traços semelhantes aos meus nessa cidade perdida de mim,
negociações entre as horas,
pra quem sabe um dia ver o dia chegar.
Todas as bestas híspidas esperando o luar,
por tantas palavras solenes e fétidas,
por tantos tropeços na estrada aberta.
Corada a sua face,
minha existência neste retrogrado tempo se cumpre,
as poucas vidas que você engrandece,
é sua dádiva agora.
Dor de dia de chuva,
molhada a alma cega (atada por pássaros mortos),
seu sorriso: avantesma dos meus mais execráveis sonhos,
nós já podemos abrir as cartas,
e esquecer da razão que nos molesta,
esquecer essa pose de herói que nos molestou.
A fonte de versos alterados,
a porta sem trinco que guarda seu sol sem sombra,
o mesmo velho na praça que encontrou seus sentidos por fim,
seu medo curioso das cores mais suntuosas,
tudo está escrito numa história que é a sua,
e na falta de papeis em branco como você ordenou (inconstância de anjo que cresce),
minha derme agora trás as frases soltas do seu destino pássaro azul.
Aberto meu peito:
estas escrito em mim,
se faz possível entender seus versos por desfecho.
Sou por excelência ultrapassada,
e por tanto esperar a perfeição de palavras que nutriam meus passos,
tornei-me austera e ganhei o silêncio de um dicionário (corpo fechado).

Amanda Cristina Carvalho
12/2/06

sábado, abril 15, 2006

Raras amizades verdadeiras...


Like a Child Again
The Mission Uk

I'm not scared anymore
I'm not scared of the dark
When I sleep with you
And I'm feeling alive
And I'm feeling strong againwhen
I'm with you...with you
And it hits me
Just like a run away train
And it blows me away
Just like a hurricane
You can make me happy
And I hope you feel the same
You make me feel
Just like a child,a child again
I'm not trapped anymore
Between Madonna and the whore
When I'm lay you...with you
And the days run away
Like wild horses run away
When I'm with you...
And I'm breathing you in
Just like a morning air
And I wrapping you around
Just like a skin to wear
Oh!sweet thing
I'm born once again
For you,sweet thing
Just like a baby again
You make me happy
And I hope you feel the same
And in heaven
And it feels like a gentle rain
You make me happy
And I want feel the same
You make me feel
Just like a child a child again

sexta-feira, abril 07, 2006

Tragédia grega por mexicanos (a reviravolta no quintal)





Por que você não olha as estrelas e esquece que o céu é maior?
Sentada num tronco seco, roendo unhas, forçando a lembrança pra aquém dos momentos que matam...E puta-que-pariu! Por que diabos você tem sempre que lembrar?
Choveu? Acabou? Amou? Passou?
Ressaca do que come minha sanidade (eles ainda não perceberam que é uma fraude?).
Vontade de voar.
“Você voa?” - disse olhando pro céu que se preparava pra adormecer.
Você rouba, você sonha? Você sabe mesmo fazer alguém sorrir?
“Eu sei uma modinha de carnaval, quer ouvir?”.
Pro inferno você e a sua falta de tempo!
Desfecho:
“Alguns dias de chuva fizeram com que a boneca de pano derretesse e soldadinho de chumbo oxidasse. E nesses fracassos pueris típicos de dias de chuva; uma certa bonequinha de louca foi pra cristaleira (tinha o esplendor daqueles caros presentes de natal)”.
A vivacidade atroz daquela casa se perdeu quando os olhos do quintal se abriram e não suportando tantos cadáveres de faz de conta...
Porém eu sei, a cristaleira era muito mais bela que a boneca de louça, que ofuscada, falsa demente, derramou uma lágrima e seus olhinhos esmaltados borraram.
Por Amanda Cristina Carvalho em 18/2/06

quinta-feira, abril 06, 2006

Sapatos voadores

Ontem eu risquei forte nas paredes do meu quarto (que não é mais meu), eu facilitei a fuga de algumas lágrimas e reconquistei o apreço que o vazio tinha por mim.Escrevi longos poemas sobre o mal que apenas as pessoas que nos amam podem causar: as frases que se concentram na alma como um câncer se alastra.
E nada vai voltar e tecer fios de coragem, protegendo os olhos da ausência, daquele espectro vazio que fica de cada dedo em riste que o coração suporta: bate palmas o tempo e algo compra num mercado sujo (daqueles de luzes fracas), toda essa minha frustração.O preço é baixo; quase o preço de um perdão pra um mendigo que de pés no asfalto se pergunta onde foi que perdeu seu canto na cidade e onde guardou seus sapatos que o levariam aos céus, se pudesse entrar nalguma igreja onde ele pudesse vender seus pecados...

Escrito por Amanda Cristina Carvalho em abril de 2006.

quarta-feira, abril 05, 2006

pense em me jogar em qualquer precipício...

Violins - Novo Organon

veja é tempo de tentar mudar
se você me disse pra onde ir
eu concordo em dizer obrigado
eu concordo em dizer a verdade
eu lhe beijo com a chuva nos olhos
eu suporto os seus sonhos tão simples
eu entendo os seus leves enganos
e eu ouso dizer que lhe amo
se você me procurar
lembre-se que estou com um sorriso mais preciso
sem a tristeza séria dos maridos e com a indiscrição,
indiscrição dos sentidos
com cabelo mais comprido
com a certeza certa dos antigos
e com a impefeição,
imperfeição dos amigos
eu ando sob um céu diferente
então perca o seu juízo
perca um pouco o seu valor em qualquer bar vá,
pense em me jogar em qualquer precipício
qualquer beijo ou prejuízo que eu deixar está perdoado
até você receber a notícia de que eu sou a malícia no seu ar lá,
onde o amor está






E as mil e uma voltas do meu sorriso pra acordar meu medo e me levar pra longe daqui...
Eu sonhei com um dia mais azul numa paleta que nunca vai ter outras cores fora o preto e o branco, e num otimismo que adoece, o cinza pra pintar seus olhos na parede da minha memória...É certamente o quadro que dói mais...

terça-feira, abril 04, 2006

A melhor das perfeições...


"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."(Clarice Lispector)

domingo, abril 02, 2006

Pouco vale...

Ontem à noite
Marguerite Duras Tradução de Tereza Coelho

Ontem à noite, depois da sua partida definitiva, fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o parque, fui para ali onde fico sempre no mês de junho, esse mês que inaugura o Inverno. Tinha varrido a casa, tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral. Estava tudo depurado de vida, isento, vazio de sinais, e depois disse para comigo: vou começar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba. Tinha lavado as minhas coisas, quatro coisas, estava tudo limpo, o meu corpo, o meu cabelo, a minha roupa, e também aquilo que encerrava o todo, o corpo e a roupa, estes quartos, esta casa, este parque. E depois comecei a escrever...

quinta-feira, março 30, 2006

O Buraco do espelho...


Arnaldo Antunes

o buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar aqui

com um olho aberto, outro acordado

no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso

mesmo que me chamem pelo nome

mesmo que admitam meu regresso

toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede

a palavra de água se dissolve

na palavra sede,

a boca cede antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira

quatro, cinco, seis da madrugada

vou ficar ali nessa cadeira

uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar agora

fui pelo abandono abandonado

aqui dentro do lado de fora

quarta-feira, março 29, 2006

Imediatismo?

Imediatismo anárquico

Cuspia citações numa folha branca,
“prefiro o céu morto e as palavras abortadas”,
é só silencio o que pode por aqui crescer.
Vi pelas vidraças trincadas:
“existência futurista”,
daquele futuro que já passou.
Canções não aliviarão o medo no porão escuro que abriga os filhos da revolução,
a própria revolução não os salvará do hermético socialismo que inventaram,
“eu não tenho medo da morte”,
um sorriso não cura a dor!
Todo esse sangue derramado,
toda essa sujeira por trás da contradição: imediatismo anárquico,
daquelas perguntas que nunca me fiz.
A revolução agora é uma face fria,
uma fratura exposta: o olhar embriagado do que não se permitiu ver,
do que nunca será mais que um poema;
alegoria para mentiras,
contendo o choro;
perto daqui,
por trás daquela porta....
A.M.10/12/05

A tal da borboleta...


Vá lá!
Acorde!
Pouca coisa, pouca falha, pouco tempo e você vive na asa daquela borboleta nostálgica.
A tal da borboleta sem sonhos, sem futuro, apenas cultuando aquele passado lindo, nas cores submersas de lágrimas.
Era uma borboleta simples, com azas e cara de borboleta.
Sei que você a viu naquelas tardes.
Sei tanta coisa que você pensa que eu não sei.
Eu vi e não vou te contar.
Passe o tempo agora, e amanhã uma nova lenda pra tentar fazer brilhar seus olhinhos e acalmar seu coração.