quinta-feira, março 30, 2006

O Buraco do espelho...


Arnaldo Antunes

o buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar aqui

com um olho aberto, outro acordado

no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso

mesmo que me chamem pelo nome

mesmo que admitam meu regresso

toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede

a palavra de água se dissolve

na palavra sede,

a boca cede antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira

quatro, cinco, seis da madrugada

vou ficar ali nessa cadeira

uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado

agora eu tenho que ficar agora

fui pelo abandono abandonado

aqui dentro do lado de fora

quarta-feira, março 29, 2006

Imediatismo?

Imediatismo anárquico

Cuspia citações numa folha branca,
“prefiro o céu morto e as palavras abortadas”,
é só silencio o que pode por aqui crescer.
Vi pelas vidraças trincadas:
“existência futurista”,
daquele futuro que já passou.
Canções não aliviarão o medo no porão escuro que abriga os filhos da revolução,
a própria revolução não os salvará do hermético socialismo que inventaram,
“eu não tenho medo da morte”,
um sorriso não cura a dor!
Todo esse sangue derramado,
toda essa sujeira por trás da contradição: imediatismo anárquico,
daquelas perguntas que nunca me fiz.
A revolução agora é uma face fria,
uma fratura exposta: o olhar embriagado do que não se permitiu ver,
do que nunca será mais que um poema;
alegoria para mentiras,
contendo o choro;
perto daqui,
por trás daquela porta....
A.M.10/12/05

A tal da borboleta...


Vá lá!
Acorde!
Pouca coisa, pouca falha, pouco tempo e você vive na asa daquela borboleta nostálgica.
A tal da borboleta sem sonhos, sem futuro, apenas cultuando aquele passado lindo, nas cores submersas de lágrimas.
Era uma borboleta simples, com azas e cara de borboleta.
Sei que você a viu naquelas tardes.
Sei tanta coisa que você pensa que eu não sei.
Eu vi e não vou te contar.
Passe o tempo agora, e amanhã uma nova lenda pra tentar fazer brilhar seus olhinhos e acalmar seu coração.