quinta-feira, abril 27, 2006

Para os mais sóbrios homens de exceção...


E os mesmo passos que nos roubaram parte da vitalidade me trouxeram pra esse ininterrupto medo de ser quem eu sou.
Medo de abrir os olhos e ver que tudo o que se quebra nem sempre parece frágil.
Imediatismo dos sentidos, gritos no escuro, e a mesma estupidez ao notar que toda a sensação que me restar é apenas resto no fim.
Escorrem lentas as folhas dos galhos e a sua estranha forma de me dizer “não”, me acorda.
E dá mesmo vontade de virar um espectro de mim mesma pra não ter mais que ver e ser vista.
Mas o que solta essas amarras e me nutre nesse universo aleatório de almas globalizadas vai além dessas tardes insólitas e tão vulgares quanto cavas.E mesmo que você se esqueça eu vou passear pelo seu silencio sempre que você souber e conter o que tem a dizer.

por Amanda Cristina Carvalho

terça-feira, abril 25, 2006

depois da uma...


Vento de Maio

Vento de maio rainha de raio estrela cadente
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais...
Vento de raio rainha de maio estrela cadente
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover...
Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção
Sol girassol e meus olhos ardendo de tanto cigarro
E quase que eu me esqueci que o tempo não pára
Nem vai esperar
Vento de maio rainha dos raios de sol
Vá no teu pique estrela cadente até nunca mais
Não te maltrates nem tentes voltar o que não tem mais vez
Nem lembro teu nome nem sei
Estrela qualquer lá no fundo do mar
Vento de maio rainha dos raios de sol
Chegou de repente o fim da viagem
Agora já não dá mais pra voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás
Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu piquenique...

domingo, abril 23, 2006

alma agridoce que nutre a minha alma amarga...


"A vida pode ser comparada a um bordado que no começo vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos."
Arthur Schopenhauer

sábado, abril 22, 2006

O mérito e a lascívia das borboletas


Cada palavra que compõe parte daqueles versos é apenas palavra crua, feita de vazio e dias de sol sem esperança.
Porém, o que corrói meus laços e nossas dívidas imperdoáveis com os deuses vai além do nosso desejo.
Indispensáveis olhares que nutrem uma euforia roubada de algum filme europeu.
E a dor por fim se faz leve como um pensamento de criança.
E seu eu contasse o auge de nossas vidas em linhas tortas, alguém iria sair da sala e em algum lugar do mundo fariam um carnaval.
Acredita no que eu não acredito pra podermos caminhar mais livres em alguma estrada que nosso medo inventar.
Mais tarde, o que se faz puro hoje, irá se perder por nossas mesquinharias e o céu se abrirá nos afastando cada vez mais até que você consiga por fim chorar.
Vulneráveis?
Talvez sejamos.Um pouco mais que nossa espera, talvez sejamos, pouco dignos de nosso passado, talvez sejamos.
Mas o que importa, se quando olhamos pra nós o riso nos compra a alma e fazemos de um verso algo mais que solidão?
O que importa num mundo onde o que brilha é o que menos tem valor?
Deixemos nossos sapatos sujos de barro na porta, deixemos nosso egoísmo lá fora, calemos nossos olhos, pra conseguirmos olhar e finalmente perceber que somos menores que tudo e maiores que eles.
Soluciona sua espera com a minha chegada mesmo que você não veja sentido no que eu sou.
Estou perdida de mim com um sorriso arrogante e sincero no que inventa.

Por Amanda Cristina Carvalho em abril de 2006.

sexta-feira, abril 21, 2006

Não vale mesmo a pena não... ("Eu não sei lidar com você")


Não vale mesmo a pena não
não vale mesmo a pena não
se eu choro é por causa de você
se eu deixo os dias passarem assim
e porque perdi a vontade de viver
alegre ou triste o que é que vai mudar em mim
se você ainda quer estar nos dias que já passaram, não sei
mas sobrou pra mim
permaneço aqui estático
não vale mesmo a pena não levantar e ver

(Estático_Mombojó)

terça-feira, abril 18, 2006

Idiossincrasia



Dos pés nus na terra,
trago a lembrança forânea,
comprou as vestes e despediu-se do vilarejo.
Tantos traços semelhantes aos meus nessa cidade perdida de mim,
negociações entre as horas,
pra quem sabe um dia ver o dia chegar.
Todas as bestas híspidas esperando o luar,
por tantas palavras solenes e fétidas,
por tantos tropeços na estrada aberta.
Corada a sua face,
minha existência neste retrogrado tempo se cumpre,
as poucas vidas que você engrandece,
é sua dádiva agora.
Dor de dia de chuva,
molhada a alma cega (atada por pássaros mortos),
seu sorriso: avantesma dos meus mais execráveis sonhos,
nós já podemos abrir as cartas,
e esquecer da razão que nos molesta,
esquecer essa pose de herói que nos molestou.
A fonte de versos alterados,
a porta sem trinco que guarda seu sol sem sombra,
o mesmo velho na praça que encontrou seus sentidos por fim,
seu medo curioso das cores mais suntuosas,
tudo está escrito numa história que é a sua,
e na falta de papeis em branco como você ordenou (inconstância de anjo que cresce),
minha derme agora trás as frases soltas do seu destino pássaro azul.
Aberto meu peito:
estas escrito em mim,
se faz possível entender seus versos por desfecho.
Sou por excelência ultrapassada,
e por tanto esperar a perfeição de palavras que nutriam meus passos,
tornei-me austera e ganhei o silêncio de um dicionário (corpo fechado).

Amanda Cristina Carvalho
12/2/06

sábado, abril 15, 2006

Raras amizades verdadeiras...


Like a Child Again
The Mission Uk

I'm not scared anymore
I'm not scared of the dark
When I sleep with you
And I'm feeling alive
And I'm feeling strong againwhen
I'm with you...with you
And it hits me
Just like a run away train
And it blows me away
Just like a hurricane
You can make me happy
And I hope you feel the same
You make me feel
Just like a child,a child again
I'm not trapped anymore
Between Madonna and the whore
When I'm lay you...with you
And the days run away
Like wild horses run away
When I'm with you...
And I'm breathing you in
Just like a morning air
And I wrapping you around
Just like a skin to wear
Oh!sweet thing
I'm born once again
For you,sweet thing
Just like a baby again
You make me happy
And I hope you feel the same
And in heaven
And it feels like a gentle rain
You make me happy
And I want feel the same
You make me feel
Just like a child a child again

sexta-feira, abril 07, 2006

Tragédia grega por mexicanos (a reviravolta no quintal)





Por que você não olha as estrelas e esquece que o céu é maior?
Sentada num tronco seco, roendo unhas, forçando a lembrança pra aquém dos momentos que matam...E puta-que-pariu! Por que diabos você tem sempre que lembrar?
Choveu? Acabou? Amou? Passou?
Ressaca do que come minha sanidade (eles ainda não perceberam que é uma fraude?).
Vontade de voar.
“Você voa?” - disse olhando pro céu que se preparava pra adormecer.
Você rouba, você sonha? Você sabe mesmo fazer alguém sorrir?
“Eu sei uma modinha de carnaval, quer ouvir?”.
Pro inferno você e a sua falta de tempo!
Desfecho:
“Alguns dias de chuva fizeram com que a boneca de pano derretesse e soldadinho de chumbo oxidasse. E nesses fracassos pueris típicos de dias de chuva; uma certa bonequinha de louca foi pra cristaleira (tinha o esplendor daqueles caros presentes de natal)”.
A vivacidade atroz daquela casa se perdeu quando os olhos do quintal se abriram e não suportando tantos cadáveres de faz de conta...
Porém eu sei, a cristaleira era muito mais bela que a boneca de louça, que ofuscada, falsa demente, derramou uma lágrima e seus olhinhos esmaltados borraram.
Por Amanda Cristina Carvalho em 18/2/06

quinta-feira, abril 06, 2006

Sapatos voadores

Ontem eu risquei forte nas paredes do meu quarto (que não é mais meu), eu facilitei a fuga de algumas lágrimas e reconquistei o apreço que o vazio tinha por mim.Escrevi longos poemas sobre o mal que apenas as pessoas que nos amam podem causar: as frases que se concentram na alma como um câncer se alastra.
E nada vai voltar e tecer fios de coragem, protegendo os olhos da ausência, daquele espectro vazio que fica de cada dedo em riste que o coração suporta: bate palmas o tempo e algo compra num mercado sujo (daqueles de luzes fracas), toda essa minha frustração.O preço é baixo; quase o preço de um perdão pra um mendigo que de pés no asfalto se pergunta onde foi que perdeu seu canto na cidade e onde guardou seus sapatos que o levariam aos céus, se pudesse entrar nalguma igreja onde ele pudesse vender seus pecados...

Escrito por Amanda Cristina Carvalho em abril de 2006.

quarta-feira, abril 05, 2006

pense em me jogar em qualquer precipício...

Violins - Novo Organon

veja é tempo de tentar mudar
se você me disse pra onde ir
eu concordo em dizer obrigado
eu concordo em dizer a verdade
eu lhe beijo com a chuva nos olhos
eu suporto os seus sonhos tão simples
eu entendo os seus leves enganos
e eu ouso dizer que lhe amo
se você me procurar
lembre-se que estou com um sorriso mais preciso
sem a tristeza séria dos maridos e com a indiscrição,
indiscrição dos sentidos
com cabelo mais comprido
com a certeza certa dos antigos
e com a impefeição,
imperfeição dos amigos
eu ando sob um céu diferente
então perca o seu juízo
perca um pouco o seu valor em qualquer bar vá,
pense em me jogar em qualquer precipício
qualquer beijo ou prejuízo que eu deixar está perdoado
até você receber a notícia de que eu sou a malícia no seu ar lá,
onde o amor está






E as mil e uma voltas do meu sorriso pra acordar meu medo e me levar pra longe daqui...
Eu sonhei com um dia mais azul numa paleta que nunca vai ter outras cores fora o preto e o branco, e num otimismo que adoece, o cinza pra pintar seus olhos na parede da minha memória...É certamente o quadro que dói mais...

terça-feira, abril 04, 2006

A melhor das perfeições...


"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."(Clarice Lispector)

domingo, abril 02, 2006

Pouco vale...

Ontem à noite
Marguerite Duras Tradução de Tereza Coelho

Ontem à noite, depois da sua partida definitiva, fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o parque, fui para ali onde fico sempre no mês de junho, esse mês que inaugura o Inverno. Tinha varrido a casa, tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral. Estava tudo depurado de vida, isento, vazio de sinais, e depois disse para comigo: vou começar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba. Tinha lavado as minhas coisas, quatro coisas, estava tudo limpo, o meu corpo, o meu cabelo, a minha roupa, e também aquilo que encerrava o todo, o corpo e a roupa, estes quartos, esta casa, este parque. E depois comecei a escrever...