segunda-feira, maio 29, 2006

...

O milagre da desintegração

E coma todas essas chances patéticas de ser um sol em meio a tanto cinza de maio.
Chegou da festa e não teve uma máscara para despir; para limpar a lama, como todos lá tinham.
Nunca usara máscaras, nunca ofuscara nenhum sorriso com a sombra negra que todo ser mascarado produz.
Julgou ser amor (amizade em pétalas) as lágrimas em seus olhos: “desculpa eu não me recordava de seu rosto; deixou sua máscara no carro?” - nesse céu aberto se ironiza tudo mesmo.
Não desce a vida, ou a voz da noite para limpar essas feridas abertas, ou nem mesmo o ser maior que as lamberia como quem vê a face do pai num túmulo aberto e fecha docemente os olhos da parte morta no cosmo mundano, que é a mais viva e munida de vigor existente dentro desse ser maior (por hora menor).
Não é venial ver essas muralhas feitas com meus pedaços mais vitais ruírem sem a vênia do meu coração (palhabote fugitivo quando você precisou).
A noite esconde as eivas do meu mundo e as imperfeições do meu rosto borrado com restos de lembranças frigidas, como um escrínio vazio.
Mas eu sou como o meu gato que vê a decadência e a beleza de me sentir caída em lágrimas (três xícaras de chá e fumaça escorrendo do meu sorriso); sou como meu gato que pode saltar alto e se limita a dormir no tapete (a virtude e a desventura de possuir o dom mesmo que enfraquecido e apenas desejar a eclesiástica salvação!).
Engula a seco meu olhar de miséria, com as íris cercadas de desprezo, engula meu sangue frio que esse adeus camuflado de “ate logo” fará ocultar.
Pensando bem...Não precisa engolir, não precisa me tragar e exalar minhas cinzas...
Eu nunca vou caber em ti porque você sobra em mim!
Ah, a vida é ato breve, as lutas são tão cavas de sentido quando um suspenso corpo livre sem luta marcada nas costas nos pergunta: quando o sol for uma estrela menor e tão antiga como as outras o que será que vai nos mover (?).
Porém, é sé literatura!
Nada mais que essa regra sem legitimação, nada mais que pedaços meus depositados em linhas...
É só literatura: minha pretensão solitária.
“O mundo está acabando e ninguém vai perceber; as flores e os vasos, seus medos, meus laços em desalento... No desperdício de alma que é amar...” –sei que não é um sonho, nem poderia me acordar.
Eu e o Chico entregamos os pontos amor...

Por Amanda Cristina carvalho em vinte e oito de maio de dois mil e seis.

sábado, maio 27, 2006

.......meus finais felizes evitados

"Minha miséria tem aproveitado a companhia
e embora eu sinta dor
eu não ameaço ninguém
Às vezes eu me sinto maior do que o que eu tenho compartilhado com você
Às vezes eu me pergunto porque eu reprimo quando não sou requerida para
Eu tentei ser pequena
eu tentei ser reduzida
Eu tentei bloqueos e tudo mais
meus finais felizes evitados
Às vezes eu sinto isso é muito importante para ser verdade
Eu sabotei a mim mesma pelo medo do que minha grandeza poderia causar
Medo da felicidade e medo alegria
Medo de ser importante e consequente solidez
Eu poderia ser dourada eu poderia ser brilhante
eu poderia ser liberdade
mas isto seria entediante
Às vezes eu sinto isto é tão assustador para ser verdade
Eu sabotei a mim mesma por medo de perder você
Medo da felicidade e medo de alegria
Medo de ser importante e consequente solidez
Essa conversa de liberação me faz querer ir deitar
debaixo da coberta até que o terror do desconhecido tenha ido
Eu poderia ser completa
eu poderia ser próspera
eu poderia ser reluzente
parece isolador
Às vezes eu sinto isso é muito bom para ser verdade
Eu saboto a mim mesma por medo do que minha felicidade poderia causar.
Medo da felicidade e medo de ficar feliz
Medo de ser importante e consequente solidez"
(Alanis Morissette)

sexta-feira, maio 26, 2006

Por favor meu ego não dê força ao prego que nos põe contra a parede...


As flores do jardim da nossa casa,
Morreram todas, de saudades de você,
E as rosas que cobriam nossa estrada,
Perderam a vontade de viver,
Eu já não posso mais,
Olhar nosso jardim,
Lá não existem flores,
Tudo morreu pra mim,
As coisas, que eram nossas se acabaram,
Tristeza e solidão, é o que restou,
As luzes das estrelas se apagaram,
E o inverno da saudade, começou,
As nuvens brancas, escureceram,
E o nosso céu azul, se transformou,
O vento, carregou todas as flores,
E em nós, a tempestade, desabou!
Mas não faz mal, depois que a chuva cair,
Outro jardim,
um dia há de reflorir!
(Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

terça-feira, maio 23, 2006

Noite de um único verso

(ao doce menininho)

Você destrói o mundo com poesia, eu compro o mundo com compaixão.
Você revive tudo aquilo que eu feneço com um sorriso cru, irritante (o raspar das unhas nos vidros).
As luzes que nos tocam sem dor; sem bolinar nossos olhos, anunciam que nos encontramos e que toda a miséria eterna do mundo não vai nos humilhar quando você o punir com sua poesia e eu recolher seus versos -extasiados de glória- com a minha compaixão.
Agonia da força na extremidade do seu olhar no meu, pra todo arco-íris que nascer na sua ausência.
Rompi o hímen da minha alma e te desenhei na minha falta de pudor ao te encontrar e sorrir.
Nunca pensei em me encontrar numa desordem de sentir, espera essa chuva molhar meu passado e me cala com sua língua no meu pescoço –pulsando quente tanto quanto minhas artérias que até então eram frias e inertes-.

Por Amanda Cristina Carvalho22/4/06.

sexta-feira, maio 12, 2006

Conto de fodas

Se você deseja mesmo ir vá...Seus passos tão simples e a sua presença chegando em passos lentos; derramados na minha memória e na minha solidão eventual.
Conte tudo o que houve em letras grandes aos deuses antes de adormecer; e eu sei que também é vida o que ousar cair de meus olhos numa futura manhã.
Fadas e encontros de almas só acontecem quando os olhos se fecham e você não deseja que seu desejo se realize, mas que o seu destino deixe de ser uma profecia blasfemada e se torne o instante, o agora que não é que você sonhou, mas o que você precisava e não sabia.
Durma em paz; não na paz do meu amor que não existe, mas na paz de estar deixando meu reino; mesmo que a primavera tardia esteja em vigor.Meu jardim floresce, minha fonte seca e as luzes acendem, me encontrando num trono vazio e com o sorriso mais verdadeiro desse lado do planeta.
Vá em paz, mesmo que ela seja falsa, esqueça os dragões que você teve que enfrentar para estar comigo.A maldição foi desfeita; agora são todos borboletas, eu voltei a ser um sapo e não adianta mais me beijar.
Por Amanda Cristina Carvalho em maio de 2006.

quinta-feira, maio 11, 2006

como diz essa forma geométrica chamada palavra...

(...)
Não queria acumular você em meus braços, mas não me acomodo quando penso que você está apenas de passagem; quero uma lembrança que ainda não tenho, daquela música, daquela opinião, e acumulo tudo isso em uma mesma memória.
(...)

terça-feira, maio 09, 2006

poema de e-cummings

this little huge
-eyed per-
son(nea
-rly burs-
ting with the
in
-expressib-
le
num
-berlessn-
ess of her
selves)can't
u
-nderstan-
d my o
-nl-
y me
esta criancinha de
-olhos esbugal-
hados(qua
-se explod-
indo com a
in
-exprimív-
el
in
-umerosid-
ade de seus
euses) não pode
c
-ompreend-
er meu a
-pena-
s mim
trad. Carlos Loria
in revista Dimensão nº 28/29, 1999, p. 187.

segunda-feira, maio 08, 2006

Feliz Aniversário Veridiana...


O fruto da lascívia da borboleta que não morreu (dessa vez) em vinte e quatro horas

Eu invento a minha própria pílula,
ela não corrói meu estômago,
e nem trás náuseas aos meus protestos de voltar a pensar.
Minha pílula você não consome com todos esses vermes no olhar,
com essa mão fechada,
esse punho tardando o tapa,
e me cuspindo demente indignação.
A alma é livre,
e o corpo que rola e esfola a moral de velhos movimentos também ,
é tudo a escolha, a folha e a bolha
que salta dos meus olhos: bolinando tudo com inocência,
e roubando sem pudor qualquer coisa de você.
Eu invento a minha própria poesia,
a luz que acorda a chama antiga em versos,
eu faço e vendo minhas palavras,
e alegoria dispensável não é a confiança;
silêncio de noites que não rimam.
Eu invento a meu próprio show,
não preciso de talco, palco, de iluminação; chamas frias,
eu faço meu roteiro e minha fala nunca vai ser o que você quer ouvir.
A minha vida eu mesma invento,
reinvento você no intervalo em que eu não souber mais o que inventar,
supro, nutro seus passos que te levam daqui,
meu sorriso é a nave, a chave;
a clave de sol aberto,vivo no nosso jardim.
Meu contorno nas suas palavras;
isso eu não invento,
vento e chovo em você,
passo, largo, escapo por seus dedos;
e tento perceber pra onde esse vão me leva.
E se eu sustento o vôo desse pássaro que tem asa no seu sorriso,
é porque eu nunca vou me encontrar numa sexta feira,
nunca vou deixar a fumaça e essa garoa só por te animar,
e se você não me conhece,
é melhor nem tentar me roubar...
Sou a carta marcada,
a invenção de quem em vida só fez inventar,
vou sempre reinventar curas e fontes da juventude
pra toda lágrima que vadia do meu rosto rolar.
Se a gente não for a própria poesia;
não adianta mesmo tentar inventar,
o amor, a cor do medo,
tudo isso só vinga se você souber olhar,
eu olho e te vejo;
a esfinge é estrangeira,
mas eu entendo a fagulha semi-viva;
é seu medo de não conseguir me reinventar!
Por Amanda Cristina Carvalho em 7 de maio de 2006.

sexta-feira, maio 05, 2006

lamúrias...


"Agora eu durmo tarde
E acordo tarde
E as tardes são assim
Pra mim manhãs
Que passam em velocidade
E ardem como o sol
Que arde
A madrugada inteira
Eu abro os olhos
Eu olho as horas
Eu molho os óculos
E ainda é agora
Eu cato conchas na geladeira
Eu conto estrelas
Depois que o dia nasce
Será tarde?"
(Adriana Calcanhotto)

Já se sentiu como um peixe que acaba de ser pescado?
Os olhos do pescador te engolindo, vendo que tipo de peixe você é, que tipo de lucro você dá...
Odeio essa coisa de ser analisada, de ter que mostrar quem eu sou, mesmo que valha algo em troca.
Eu não sou mais que o que imaginaram pra mim, eu sou bem menos que o que quis ser, mas sou e isso nunca me basta.
Penso em versos e acordos em dó menor.
Queria gostar dela e esquecer o medo, mas eu nunca sei o que estou tentando dizer que quero, quando na verdade, o que mais queria é que tudo que eu quis fosse um desejo dela também.
Mas nunca vai ser mais que um desejo meu, que por vezes se faz tão surreal e patético que eu o esqueço em qualquer canto pra fingir que não é mais meu.
E ainda tem os patos, as estradas e as pestes das crianças que insistem em fazer barulho na rua, como se toda aquela alegria que exalam tivesse passagem livre pela minha janela.
Não reparem esse mau humor de recém desempregado que não encontra emprego em canto algum.
Não reparem nessa frustração pós ensino médio de quem não passou no vestibular e ainda não foi mais do que o que esperavam.
Não reparem nessa má literatura que nada diz e nada muda, é apenas mais um dia pra quem acorda e não encontra o que deixou no lugar de sempre e que nunca está lá quando se procura!

quinta-feira, maio 04, 2006

tua ausência fazendo silêncio em todo lugar...


O Anjo Mais Velho
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli

O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente
"Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
enchendo a minha alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar
tua palavra,
tua história
tua verdade fazendo escola
e tua ausência fazendo silêncio em todo lugar
metade de mim
agora é assim
de um lado a poesia o verbo a saudade
do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fime o fim é belo incerto...
depende de como você vê
o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você

quarta-feira, maio 03, 2006

Manifesto Utópico-Ecológico em Defesa da Poesia & do Delírio


De Roberto Piva,

Invocação

Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.
Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia. Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico, nosso espaço vital & dos animais está reduzido a proporções ínfimas quero dizer que o torniquete da civilização está provocando dor no corpo & baba histérica o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos em relação às últimas descobertas científicas no campo da física, biologia, astronomia, linguagem, pesquisa espacial, religião, ecologia, poesia-cósmica, etc., provocando abandono das escolas no vício de linguagem & perda de tempo em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche, Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W. Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn, Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel, São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky, Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis, Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme & por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão sexual, não existindo mais saída a não ser fechá-la & transformá-la em Cinema onde crianças & adolescentes sigam de novo as pegadas da Fantasia com muita bolinação no escuro.
Os partidos políticos brasileiros não têm nenhuma preocupação em trazer a UTOPIA para o quotidiano. Por isso em nome da saúde mental das novas gerações eu reivindico o seguinte:
1 - Transformar a Praça da Sé em horta coletiva & pública.
2 - Distribuir obras dos poetas brasileiros entre os garotos (as) da Febem, únicos capazes de transformar a violência & angústia de suas almas em música das esferas.
3 - Saunas para o povo.
4 - Construção urgente de mictórios públicos (existem pouquíssimos, o que prova que nossos políticos nunca andam a Pé ) & espelhos.
5 - Fazer da Onça (pintada, preta & suçuarana) o Totem da nacionalidade. Organizar grupos de Proteção à Onça em seu habitat natural. Devolver as onças que vivem trançadas em zoológicos às florestas. Abertura de inscrições para voluntários que queiram se comunicar telepaticamente com as onças para sabermos de suas reais dificuldades. Desta maneira as onças poderiam passar uma temporada de 2 semanas entre os homens & nesse período poderiam servir de guias & professores na orientação das crianças cegas.
6 - Criação de uma política eficiente & com grande informação ao público em relação aos Discos-Voadores. Formação de grupos de contato & troca de informação. Facilitar relações eróticas entre terrestres & tripulantes dos OVNIS.
7 - Nova orientação dos neurônios através da Gastronomia Combinada & da Respiração.
8 - Distribuição de manuais entre sexólogas (os) explicando por que o coito anal derruba o Kapital
9 - Banquetes oferecidos à população pela Federação das Indústrias.
10 - Provocar o surgimento da Bossa-Nova Metafísica & do Pornosamba. O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a vida tanto melhor ".

segunda-feira, maio 01, 2006

Ter fé e ver coragem no amor...


“Selecionei as neuroses mais comuns e que podem nos levar além da fronteira convencionada: necessidade neurótica de agradar os outros. Necessidade neurótica de poder. Necessidade neurótica de explorar os outros. Necessidade neurótica de realização pessoal. Necessidade neurótica de despertar piedade. Necessidade neurótica de perfeição e inatacabilidade. Necessidade neurótica de um parceiro que se encarregue da sua vida – ô! Deus – mas desta última necessidade só escapam mesmo os santos. E algumas feministas radicais.Tão difícil a vida e seu ofício. E ninguém ao lado para receber a totalidade dos seres humanos, isso nos últimos anos da sua vida sem muita ilusão...A minha tiazinha falava muito na falta que lhe fazia esse ombro amigo, apoio e diversão, envelheceu procurando um. Não achou nem o ombro nem as partes, o que a fez chorar sentidamente na hora da morte, Mas o que você quer, queridinha?! a gente perguntava. Está com alguma dor? Não, não era dor. Quer um padre? Não, não queria mais nenhum padre, chega de padre. Antes do último sopro, apertou desesperadamente a primeira mão ao alcance: 'É que estou morrendo e não me diverti nada!' ”
(Lygia Fagundes Telles)