quinta-feira, agosto 31, 2006

"Enquanto eu tiver a mim... e os meus vícios, acho que está tudo bem, enquanto não houver motivo, Deus deixa estar por aqui..... Apreciando um pouco mais, as imagens que se formam, nos cacos de vidro, pelo chão......... Enquanto eu tiver a mim... e um pouco deste vinho, não importará o destino dos seus pés..... eu cansei de seguir as mesmas pegadas, se elas nunca me levam pra onde eu quero ir................................................................... ............................................................................................................................................ e quer saber? sempre enxerguei coisas de mais... Dentro de você......... coisas que já não importa mais.....................................................mais..................................... enquanto eu tiver a mim e os meus vícios............................. eu não preciso de ninguém............................ eu não preciso de você...... eu não preciso............................................................ eu não preciso................................................"

terça-feira, agosto 29, 2006

lá lá lá...

" Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu queria amar o que eu amaria - e não o que é. É também porque eu me ofendo a toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim.Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente.Talvez eu tenha que chamar de "mundo"esse meu modo de ser um pouco de tudo. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário(...). Eu que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu."(Clarice Lispector)

quarta-feira, agosto 16, 2006

oh!

"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la.
"Eu te odeio" disse muito apressada.
Mas não sabia sequer como fazia.

C. Lispector

domingo, agosto 13, 2006

Necessidade de auto-afirmação?

"(...)E vem você
Me olha através da cortina do tempo
Me pega sentado no palco da vida
Tão fraco e indefeso
Marcas desse nosso tempo
E vem você
Que faz do meu canto um canto de paz
E eu tão tapado coitado até penso
Que o meu Negro Blues
é folclore de Minas Gerais "


Como já dizia minha mãe: "Filha você é estranha, não se pode passar a vida assim; vendo ela passar, esperando sabe lá o quê...".
Ela não entende, eu não entendo.
É tão trivial esse assunto que eu o desprezo, odeio os clichês e as trivialidades.
Eu queria escrever sobre a Amanda Cristina Carvalho hoje, mas eu nunca sei em que discurso eu fico; direto ou indireto.Em qual sujeito me classifico, simples, composto ou oculto.
Hoje é dia dos pais.
Estou neutra aos meus sentimentos, e contendo meus pensamentos que são mais bizarros e surrealistas do que um filme de Buñuel.
Eu sinto que estou sempre alimentando os mesmos cães que me feriram.
Eu sinto, sei, penso.
Mas não saio daqui.
Eu sempre fico pra ver o final, mesmo que ele for eu nua e exposta em praça pública pra toda e qualquer chance de me camuflar na minha arrogância se perder, tão precisa quanto um tiro.
Eu só funciono assim, quando eu já disse e fiz tudo que podia e o que não podia.
Arredia e patética num limite de bomsensopseudoliterário.
Já percebi como as pessoas reagem a um murro, sem precisar sujar minhas mãos!
É pra falar de medo, a gente fala de medo, mas se é pra inspirar coragem, eu tiro os sapatos e piso nas pedras, me corto na lâmina da impressão.
Mas eu caio e passo meus anos no tapete verde do mundo que é só meu, observando a vida lá fora.
Eu estou me sentindo de outra espécie, eu já não peço explicação.
Arrebenta essa corda quem tiver coragem e vem aqui me dizer quem eu sou quando eu faço tudo e todos virar contradição.
Se eu incomodo é porque existo, é porque sou de verdade.
É real quando eu tropeço pelas ruas com as lágrimas nos olhos e os gritos deixados em algum outro olhar se tornam apenas ecos do que eu sentia.
É real mesmo que por engano, por doses de mágoas* a mais. É pra me ver morrer mesmo.Mas sem o peso do amor -em vias erradas- pra quando eu for ressucitar.



sábado, agosto 12, 2006

Dos três mal amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita,
o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos,
o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso,
a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra,
meu dia e minha noite,
meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

(Lirinha)

sexta-feira, agosto 11, 2006

torneira aberta.

"(...) Eu... A andorinha
contou que,
sozinha, canta, mas não faz verão.
Tem boi na linha.É o mesmo trem, a mesma estação.
Resumindo: -Até logo, eu vou indo.
Que é que estou fazendo aqui?
Quero outro jogo,
que este é fogo de engolir. "
(Belchior_Depois das seis)



-Dá pra ouvir daí?
Não, não, é mais embaixo.
Isso, bem aí.
Pega esse pedacinho do meu coração pra mim e manda ele parar de cantar Tom Waits.
Já não basta os outros que declamam Florbela Espanca bem ás cinco da manhã.
Estou tentando juntar todos e calar os risos das paredes do meu quarto que ironizam alegres as noites que passei longe.Vou reunir todos os pedaços e ter de volta meu coração.
"Toda caixa guarda alguma coisa, mesmo que o vazio, mesmo que o silêncio de um morto."
Ah!
Todos os clichês são válidos porque toda a poesia não bastou.
Como duas pessoas tão iguais podem se tornar tão distintas quando é preciso deixar tudo pra trás?

sábado, agosto 05, 2006

como antigamente...

Entre o autor e o público, posta-se o intermediário.
E o gosto do intermediário é bastante intermédio, medíocre.
Medianeiros médios pululam nos meios, onde, galopando, teu pensamento chega.
Um deles considera tudo sonolento:
"sou homem de outra têmpera! perdão", e repete um só refrão:
"O público não compreenderá".
Camponês, só viu um faz tempo, antes da guerra.
Operários, deu com dois, uma vez, numa ponte, vendo subir a água da enchente.
Mas diz que os conhece como a palma da mão.
Que sabe tudo o que querem!Aqui vai meu aparte: chega de chuchotar bobagens para os pobres. Também eles, podem compreender a arte.
Logo, que se eleve a cultura do povo! Uma só, para todos.
(Maiakovski)

quarta-feira, agosto 02, 2006

Frases soltas (ao seu gosto honey)

Tantas mentiras.
Tantas vontades.
Lembrança que corre com um pedaço de giz marcando a parede da minha sanidade.
Faz frio aqui, e eu gosto desse frio quando ele parece comer minhas entranhas de forma carinhosa e simpática.
É tão bom quando algo nos come de forma carinhosa e simpática, mesmo que seja somente o frio.
Precisamos ser comidos, é antropofagia sã que nos move na maioria das vezes.
Eu estou com medo.
Medo do meu medo não caber mais dentro de mim.Medo de não caber mais naquela cidade, medo de acordar sempre cedo, medo de não dormir mais, medo de ver que a culpa sempre foi minha e que eu estava mesmo correndo pro lado errado quando eu jurei que era mesmo pra lá que eu tinha que ir...
Eu não quero mais essas frases soltas via e-mail, eu não quero mais esse tormento na minha caixa de entrada, porque eu realmente o amo, e esse tempo e distância parece anacrônico ao que nos fazia ser apenas duas almas que se entendiam, pai e filha!
Odeio me sentir como um peixe pescado, já disse isso certa vez.
Preciso do outro lado da lua, não desse que é permitido ver.
Preciso do outro lado da rua, aquele em que te deixei e fui cortar minhas asas pra voarmos somente com as suas...
Mas as suas eram roubadas...
Eu odeio tanto ter que te odiar pra continuar amando ao que me resta.
“Ódio é que nem escrito, só envelhece”.
Eu não sei ser quem eu era pra te alegrar.
Eu não sei alegrar mais ninguém.
Eu queria fugir, mas nem lá no meu refúgio eu tenho mais paz.
Estão roubando o que eu tenho de melhor e guardando numa caixa de plástico (e tanto que eu odeio plástico!).
Não faz sentido o sentir que me sentia entrar seis e pouco da manhã no quarto quente: o sono que engolia a alma.
Ta aí, mas alguma coisa comida.Mais alguma coisa roubada.
A saudade já não me tem o mesmo efeito, acho que perdeu o lirismo com o tempo que me fez perder algumas outras coisas que não podiam ter sido perdidas.
Não quero mais ninguém por perto por hoje.
Eu precisava dessa paz que me levaram, eu precisava daquele dinheiro ao qual me privaram.
Não era nada disso que eu queria escrever.
Não era nada disso que eu queria sentir.
Não era de ti que eu queria lembrar.
Não era essa dor que eu queria celebrar.
Não era essa cidade que eu queria nomear.
Não era esse verme que eu queria pra comer meu cadáver ainda vivo.
Não era desse pássaro que eu queria retirar a asa pra te dar e te ver voar pra bem longe de mim.
Não era com esses olhos que eu queria te reencontrar.
Não, não era!
Juro por todos os fenecidos que não era...

terça-feira, agosto 01, 2006

depois das cinco...




"Da primeira vez..."
Mário Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela amarelada...
Como único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca,
Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!