segunda-feira, outubro 23, 2006

e chega!

"Já passou, já passou
Se você quer saber
Eu já sarei, já curou
Me pegou de mal jeito
Mas não foi nada, estancou
Já passou, já passou
Se isso lhe dá prazer
Me machuquei, sim, supurou
Mas afaguei meu peito
E aliviou
Já falei, já passou
Faz-me rirHa ha ha
Você saracoteando
Daqui prá acolá
Na Barra, na farra
No forró forrado
Na Praça Mauá, sei lá
No Jardim de Alah
num clube de samba
Faz-me rir, faz-me engasgar
Me deixa catatônico
Com a perna bamba
Mas já passou, já passou
Recolha o seu sorriso
Meu amor, sua flor
Nem gaste o seu perfume
Por favor
Que esse filme
Já passou"

(Chico Buarque_Já passou)








E vê se me deixa em paz ...

terça-feira, outubro 03, 2006

Melodrama II

Eu já quis você assim pintando sorrisos em tudo que soa melancólico ou que envolva o silencio de quem já vai em mim.
Hoje meu amor eu já não quero mais você ou sua voz, eu não quero essa vontade de matar e de morrer quando você me olha e finge não ver tudo que eu sou.
Eu rondo tudo que temo e sempre caio; confessional, perdida no seu olhar.
Porque a minha saudade masturba sua ausência sem fazê-la gozar.
Eu não sou o que querem que eu seja e o que ando sendo não se parece com o que eu sou.
Eu acordo e procuro, procuro as verdades e as bobagens que nos unia, vejo meus olhos nos espelhos e me lembro o quanto somos iguais, e dói!
Depois de doer eu limpo o sangue e ah! os deuses sabem o quanto eu tentei te apagar daqui, tirar suas frases cravadas em meu peito, engolir essa fumaça; tragando todo o meu remorso.
Eu já quis você assim acreditando no que eu inventei, beijando a miséria das palavras que eu não falei, supondo meus passos; e não os cultuando como se só caminho a seguir fosse o que me resta agora.
Eu já quis sua mão embriagada, pousada na minha sanidade, eu já quis a cor das suas íris nas paredes do meu quarto.
Meu amor, eu já quis você como verso quer sangue, como domingo quer indiferença, quis como a solidão quis o outrora no jornal de hoje.
Não que não te queira mais, não que eu não te queira amar...
Não nos acredito mais, não bebo mais dos anseios e não cruzo minhas íris com as suas pra que não notes que tudo em mim grita seu nome e que a pancada que me destes nos olhos não os deixa fechar, nem sonhar.
Eu atiro no escuro e acerto em cheio qualquer bom agouro que ousava neste quarto entrar.
Existe sim aquela verdade que dizia mais alto tudo o que não queríamos ouvir, aquela que procurávamos ou não.
Eu sinto um peso maior sobre meus olhos, um tormento novo numa terra estrangeira, e ainda é tão difícil suprir com essa incerteza o que chamavas de boa intenção.
Por Amanda Cristina Carvalho numa noite de agosto qualquer de 2006.

Melodrama

Porque sobre meus olhos pesa essa resignação de te amar e desejar ver-te cada dia mais longe, cada dia mais meu; mesmo entre ruas longínquas; encostado em muros onde eu nunca escrevera meu nome, onde meus insetos nunca tentaram abrigo.
Por tanto tempo eu quis uma espécie de dádiva, de vento que dissesse alguma coisa doce, sempre sondando o medo que não foi meu; para tentar me manter aqui dentro do quarto, fazendo cortes e desenhando na minha alma que desonrada resolveu voltar pra mim.
É tão miserável essa condição de se comprimir num sorriso, de guardar o passado entre os dentes amarelos.
E essa nostalgia de borboleta, como de quem vive vinte e quatro horas e precisa abandonar as lembranças e dizer que era mesmo vida que escorria de seus olhos, quando não era.
Mas agora eu tenho uma nova miséria que aparece quando eu sinto o sangue descer a garganta, quando blasfemo da minha sorte e te vejo passar.
Por Amanda Cristina Carvalho em alguma noite de agosto de 2006.