quarta-feira, dezembro 27, 2006

meu coração não quer deixar meu corpo descansar...

Uma Canção Desnaturada


Por que creceste, curuminha

Assim depressa, e estabanada
Saíste maquilada
Dentro do meu vestido
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo
Pra reviver a tempo
De poder
Te ver as pernas bambas, curuminha
Batendo com a moleira
Te emporcalhando inteira
E eu te negar meu colo
Recuperar as noites, curuminha
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro
E cuidar só de mim
Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
Vestir-te com desleixo
Tratar uma ama-seca
Quebrar tua boneca, curuminha
Raspar os teus cabelos
E ir te exibindo pelos
Botequins
Tornar azeite o leite
Do peito que mirraste
No chão que engatinhaste, salpicar
Mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído

(Chico Buarque)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

repetição insignificante


" Entre as verdes folhas do avarandado
entre as velhas telhas do elho sobrado
entre as luzes dos faróis nas duas mãost
odo canto em que estou você está
Pelos campos entre a relva e a liberdade
entre as torres de concreto na cidade
na incerteza do universo em que estou
todo canto em que estou você está
O seu vulto me persegue
pelas noites mal dormidas
O primeiro pensamento da manhã
é você
As olheiras tão marcadas
minha voz rouca e cansada
O primeiro sentimento do amanhã
tem que ser você
O primeiro pensamento da manhã
O primeiro sentimento do amanhã "
(Zé Geraldo)