terça-feira, maio 26, 2009

"hoje só acredito no pulsar das minhas veias..."


É curioso, mas eu estou me sentindo estranha, um sono constante, uma calma que parece mais cansaço.
Minha mente fervilha de histórias e eu sei que ao terminar de escrevê-las não farão mais sentido.
Eu não quero falar de mim; lunática por excelência, cruzamento de estrelas decadentes... (risos).
Porra, eu não consigo mais fingir que nada aconteceu, não esqueço da minha avó, do vento lá do alto daquele cemitério sujo, das coisas que eu sequer consegui pensar, mas que agora me chegam.
Um esforço idiota pra não machucar ninguém... Uma solidão maluca como se não pertencesse a essa espécie.
Sonhei com um gato suicida que falava comigo o porquê de sua decisão, e o céu era desenhado: aquelas estrelinhas que a gente aprende a fazer quando criança.
O gato reclamava que não se lembrava da última vez em que comera peixe (e que tanto gostava!), disse não combinar com a cor do telhado de sua casa e maldisse o amor desiludido com gatas que não se envolviam emocionalmente.
O gato dizia tantas coisas malucas, falava de saudade, de como a humanidade estava sozinha, olhava pra mim triste: “a sua solidão é a do planeta”...
Difícil colocar a minha cabeça no lugar, ouvi por horas o que o gato falou e acordei quando ele disse que ia pular...
Nem sei pra onde ele foi, ou se morreu.
Senti-me culpada por acordar.
Eu me sinto culpada todos os dias ao acordar.
Cansada de provar que meus pés estão firmes em solo de decência (eles nunca estiveram em outro lugar). Se deus existisse seríamos bons amigos, ou namorados.
(Urgência é urgente e ninguém discute a urgência de ninguém, nem com poesia. É...).

quinta-feira, maio 07, 2009

"depois da grande noite vai esconder a cor das flores e mostrar a dor..."


Nunca mais aqueles sapatos vermelhos de salto-alto, nunca mais o casaco de plumas negras em noites que ainda não eram de inverno.
No peito saudade acumulada em forma de flores de papel crepom.
As formas todas desiguais com a saliva da solidão que tudo contamina. Nossos sonhos e nossas escolhas não têm o mesmo valor.
Os versos e as palavras se contorcem na sala fria da sua vergonha em viver. Pulando ondas numa praia nunca antes vista. Sentindo o mesmo vento que ainda sim parece estrangeiro, parece indiferente ao embaraçar os meus cabelos.
O espírito vazio, dos sentidos inertes, das febres que ninguém notou, das noites que ninguém me viu.
Alegria que só se fez em euforia, até ai parte da história, até ai é da cor dos bordados do seu tempo.
Sei tão pouco do legado da humanidade, sei que sempre houve a morte e havendo morte foi forçada a vida; e dessa vida ouvia dizer que o que fazia sentido era o amor e demais demências contagiosas.
Tantas putas em tantas esquinas, os assassinos nas mesas dos bares, tanta coisa adiada sem aviso prévio. Tantos avisos sem cartazes... Dá pra ver tevê sem som. Dá pra arrumar a cama só quando se trocar os lençóis.
Eu nunca precisei de salvação, mas admirei sim as simbologias mais espirituais nas miragens cósmicas que apenas eu vi... Todo um encanto que hoje é piada na boca de quem sequer sabe contar piadas.
Talvez todo esse meu lixo particular (guardou o seu num lugar bem afastado?) não tenha mesmo chance de reciclagem por qualquer afeto espontâneo como conversas em pontos de ônibus.
Nunca reclamei de sentir dor (hematomas sem passado); nunca precisei colocar o dedo em riste pra impor pensamentos inofensivos. A minha humildade floresce da culpa que eu nunca amenizei.
Um trem lento me leva, trilhos novos, portas quebradas... É tão devagar e me lembra que eu não sei mentir e que isso ainda vai me empurrar pro matagal que me cerca.
Pode tudo vazar, extravagar em descompasso o que já foi decisão.
O destino foi vilipendiado e não há parada de repouso de mais de três horas, o tempo uiva e nos apodrece.
Nunca gostei de me explicar, as minhas verdades expostas se fazem em voz baixa (no rosto feito de sorriso, na mão que abriga o rosto).
Há um tédio e um desconforto digno dessa existência humana, dessa humanidade relapsa e mesquinha, e os ínfimos impulsos idiotas nos casam com a decadência. Eu aprecio as angústias mais sangrentas (acontece, por vezes: sangra por trás das minhas unhas e acordo com pardais mortos embaixo do meu travesseiro).
Enredo de samba novo não pode ser amor, os pés não dançam e a dignidade não adormece.
(Nunca mais aquele ar de filme nacional antigo: sensação telúrica de sentir-se real).
Pouca percepção, bolhas nos dedos pra tentar um contorno mais vívido, pus branco saindo dos olhos... Cheiro de corpo que apanhou: palavrão de boca que se diz sacra.
Daqui eu sei, o inferno tem as mesmas cores que o meu amor.
Eu quero desenhar uma borboleta morrendo.