terça-feira, dezembro 20, 2011

Aproximadamente probo



Espaços, reticências, canções pela tarde,
é como sentir sem mudar os traços da face,
sem chegar nem perto de uma síncope,
um pouco insone,
borboletas de morte,
de doença crônica,
postais sem nome.

Agora resta a estrada à frente
longínquo esquadro quebrado no meio,
gotas de perfume na roupa suja,
sapatos limpos,
sorriso amarelo.

Procura-se um corpo em qualquer temperatura,
um canto de boca alheia pra se guardar um segredo inventado,
mãos pra brandir
e soltar quando o sufoco do desejo for muito apertado.

Alguma emoção inesperada,
um certo verso original ou reformulado,
pra esfolar este silêncio,
pra desenferrujar o coração e os dentes.

Sangue novo,
distração atemporal,
quartos nunca antes freqüentados,
um sorriso desgraçadamente belo,
daqueles que submergem a harmonia com o rosto
e perturbam o sopor dos desavisados...

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Grito na madrugada



Escutou-se um grito na madrugada. Porém, sem espanto, somente alguns despertaram. Só mais um grito, só mais uma madrugada.
Há um meio termo em tudo que se escolhe pra si. Não há sangue que lave o medo de quem se pergunta tolices demais.
A lua cheia aquecia a cidade e o coração roto de quem tinha tempo para olhar o céu.
Alguns são realmente bons, outros irremediáveis tiranos. A vida é como um beco escuro que pode dar em qualquer esquina; esquina que pode levar a qualquer lugar.
Sempre dizia que só se pode confiar em quem tem os olhos tristes. Talvez para parecer confiável.
Cada um traz dentro de si dezenas de mentiras pra contar, mas, apenas alguns têm a chance.
Das verdades, por vezes até feitas de alguma nobreza, nem sempre consolidadas só de versos vis; das verdades nem mais os padres querem saber.
(Se precisar de qualquer coisa, as procure nos sonhos, quando seu corpo parecer desfalecido e as horas, pequenas gotas molhando o colchão. Só não busque o amor nos sonhos, tente outros jogos sórdidos, outras mesquinharias mundanas).