terça-feira, agosto 28, 2012

missivas distantes












("Pan y Wendy" by Ricardo Celma)



Fábio me escreveu, depois de um longo período ausente, jurava até que ele estava morto, nem mesmo os pais sabiam do seu paradeiro, era agosto... A gosto do azar:

"Tati, sua filha da puta,

Poderia começar dizendo que perdi um quase amor, mas, prefiro dizer que tive uma grande decepção.

É que decepção em gente grande parece que deve doer menos aos olhos do mundo. Contudo, dói a beça também.

Todo esse mimimi inicial é pra dizer que os seres humanos são estranhos e cretinos.

Me lembro de talvez algum dia ter escrito algo assim, ou não é nada disso também.

O fato é que o inesperado sempre acontece.

Pudera ter um Deus que me conduzisse a escolher aprender ao invés de querer deixar esse mundo.

Pudera ter escolhido o melhor pra mim sempre como todos os seres bons fazem. Bons e que têm uma paz que talvez eu nunca tenha. E que talvez eu não precise.

Mas, se não preciso por que a anceio tanto?

E supor pertencer a um eterno sopor que me invade confundindo com autoridade. A demora de um sonho que eu não sonhei.

Desenhei flores em desalinho por tardes frias tantas vezes. E somnando tudo que eu tive com o que eu senti, fatalmente me torno uma passional libertina.

E o que se pode fazer de uma atriz nata que se enforcou entre fios e cabos de uma tecnologia sufocante? Sem falar de longas e épicas histórias em janelinhas numa tela.

Supor, sopor, pudera...

Um traço, um sonho, uma boca, um sabor e hoje o nada.

Amor é piada de mal gosto no dia seguinte.

As cores vermelha e verde só trazem a penumbra de desejos esquecidos sondando o sanatório.

E só não sei se aceito apodrecer num hospício porque talvez esse mundo ainda possa me oferecer algum prazer. Prazer esse que atualmente só percebo em versos que não são meus.

A treva amiga que me perdoe, mas, estou me alimentando de qualquer fresta de luz que meus olhos avistem. E eles avistam até que muitas, porém, poucas me iluminam.

E são tantos bares e sorrisos, tantas particularidades de uma mentira tão gostosinha que me desfaço em garota chupando recordações.

Adeus,

Fábio"

Essa noite sonhei com ele, porém, do onírico ele não sairá, não cabe sequer uma de suas pedrinhas da verdade nesse castelo de farsa que eu tento construir. Dói em mim também Fábio, mas, nada se pode fazer...