sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Fim do verão nos nossos olhos


Nossas crianças crescerão, nossos pais, fatalmente morrerão.

Vai restar no coração lembranças vagas e algumas lembranças coloridas, muita saudade que não muda nada, que sequer nos tira do lugar...

Vão sobrar sonhos multiplicados com medo, o tempo vai passar pra todos, do mais nobre ao mais vil.

As únicas certezas que temos é a do amor que damos e do tempo passando, escorrendo pelos ralos, pelas unhas, pelos muros, como relva em alvoradas frias.

Tão imediato quanto o tempo é a urgência em amar de novo. Pra se sentir completo, num êxtase contraditório de se dar tanto até ficar vazio... Até o coração parar de bater e romper o silêncio com o barulho da solidão e da morte, enfim.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Lembranças


E hoje me deu de ficar lembrando de você, daquele jeitinho engraçado que tinha de andar meio de lado, meio dançando, rindo, vindo na minha direção.

Lembrei-me de como você fazia festa com o barulho chato da sua moto, como se fossem fogos de artifício pra comemorar a vida que nunca esteve tão boa.

Nunca entendi quando estavas realmente feliz ou do que tentava se convencer.

(Que tola eu, falar de felicidade... Quem é feliz? O que nos faz feliz?)

Fiquei pensando, também, na razão de desejarmos tanto um final feliz, de encontrar logo o tal último romance e cessar as procuras vãs, os desenganos. Mas, o próprio amor que se deseja eternizar já é o engano. Mas, é tão urgente essa necessidade do “pra sempre”.

Lembrei-me do jeito que me olhava no meio da madrugada, quando nossos sorrisos de vidro se quebravam por tolices, inseguranças e ciúme banal. Na verdade, eu sonhei que tomava banho num banheiro e do vitro eu via seu olhar mais sinistro no banheiro ao lado.

Todas as vezes que sonho contigo estamos dentro de um banheiro. Simbologias oníricas á parte, eu não gosto desses sonhos que tenho contigo, acordo com medo, pressinto seu mal e eu nunca desejei seu mal, e nunca sequer pensei em lhe cobrar pelo seu estrago.

Hoje me despi do pijama e vesti-me de memórias suas, nossas, mais suas que nossas, porque tudo que está passando na minha mente hoje como um filme P&B são seus trejeitos, seus nove modos de sorrir, as quatro entonações da sua voz, cada detalhe que só uma menina apaixonada poderia ter percebido.

Porém, eu perdi meu coração junto com o RG nessa cidade estrangeira (entre tantos maços de cigarro e o cartão do ônibus), acho que me esqueci dos meus sentimentos, dos sentidos, do amor que eu tinha pelo meu passado e muito do que eu era. Bom, não vou falar de sentimentos... Vou lembrar de ti, já que não tenho outra opção, até alguma distração nova surgir, uma irritação... Até a TPM passar...

E como dizia Renato Russo: “Saudade é só mágoa por ter sido feito tanto estrago...”.

Deve ser...

 

 

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Afasia


Passos rápidos,

descompassado é mesmo o coração e o ritmo desses dias,

uma pequena gota da poça que todos desviam

é assim que se sente o universo em mim.

 

Eu nunca vi fadas ou duendes sangrarem,

eu nunca ouvi falar em confiança sem sacrilégio,

sou formada por desnecessárias  petulâncias e complicações mulheris.

 

Gosto de pimentas fortes,

me espaireço entre destilados melhor quando estou sozinha,

eu não posso ter medo,

eu não me decomponho no vazio do banal.

Mas, eu também brinco com lágrimas rasgando folhas de calendário,

 vejo mais do que queria,

tentando animar o corpo com melodias que nem sei me agradam.

Tudo desde que descosturei algumas letras,

desconstruí certezas,

 e o prazo de validade da minha solidão não expira,

não alteram o sufoco das batidas,

o ofegante da respiração,

 nem mesmo quando me vejo nos seus olhos,

ou quando meus dedos encontram a sua mão.

 

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

O AMOR SÓ PODE EXISTIR ENTRE ASPAS QUANDO SAI DA SUA BOCA


A impressão dilatada e vazia do amor que se faz de morto é muito peculiar como os sonhos que nos esquecemos de sonhar.

É como quando não se ouve um conselho de mãe e mais do que molhado, se volta rasgado e sem partes das unhas e da alma pra casa.

Quando que a lança torta do amor afeta nossa consciência e enferruja o sorriso da nossa ternura?

Por que nossos corpos se perdem entre mãos que não são as que conhecemos?

Gostamos mesmo dessas noites ou apenas procuramos engolir com vinho o que não suportamos durante o dia?

Das vontades, dos medos, dos nós na garganta todos temos que suportar fingindo ser fortes... Porém, até onde vai o que de leviano nos separa do amor?

E a quem cabia mesmo o amor? Ele vai pra onde quando nossas línguas destilam venenos novos?

Não tenho vocação pra vítima, tampouco, para um falso moralismo, somos livres até quando estamos presos, a eternidade não é culpa, é bônus pra quem é sincero... Mas, se eu te encontrasse na rua, eu apenas queria te perguntar de quantas mentiras era feito aquele seu tal “amor”. De quais cores você se lembra quando pensa em mim... E qual foi o gosto da boca que não era a minha.

Não me preocupo mais em entender seus temores, seu repúdio ao sonhar, sua paranoia em ver cenas que não estavam no filme... E qual seria o gênero do nosso filme? Qual tipo de novela poderíamos criar com as palavras que você não disse por mera maldade quando eu precisava ouvir?

Qual tom de cinza dos seus olhos se apresentou pra ela?

Ela sabia dançar ao som do seu silêncio com tanta graça quanto eu dancei? Que sabor teve sua saliva ao vê-la partir com outro? Ainda mais um outro tão conhecido.

Talvez, eu tenha todas essas respostas, quem sabe virar passado me dê uma moldura bem bonita na parede da sua memória.

Mas, não tem nada de bonito, de moldura, de dança... Não tem nada não. Somos dois delituosos, a diferença é que você é sádico e eu sou só indulgência.

Não sustentarei mais uma saudade que não me ampara. E me dá aflição só de imaginar o som fúnebre da sua voz contando mentiras doces, blasfemando aquele sentimento lá... Aquele que agora eu nem sei se existe ou pra quê tipo de ilusão serve: o amor (piada com meu nome nas mesas dos bares que você frequenta).

Então está selado o nosso fim, logo nós, e nem tivemos a chance de tomar uma cerveja pra velar aquilo que um dia eu chamei de amor.

Todas as palavras “amor” deste relato poderiam ser substituídas por chocolate, insônia, abraços demorados, canções, semi-sorrisos, volúpia, lágrimas, saudade, renúncias, sorrisos cabais, vodca, madrugadas inteiras de beijos, danças, insistência, euforia e tudo que ilude e faz pensar que é amor. Mas, da sua parte nunca foi amor.

Eu estou olhando para o  nada e buscando sensação correspondente pra essa situação, não sei dos seus erros qual deles me expõe mais idiota diante os olhos do mundo.

Mas, não é o mundo que me preocupa, é o meu mundo que eu construí baseado nas suas palavras falsas, na sua inconstância, na sua violência e desejo que me deixa tão perplexa e confusa assim.

Agora é tarde. Sempre foi tarde?

Com quais versos eu canto a poeira que ainda está nos meus olhos de tudo isso que não ficou?

Se eu não moro mais no seu pensamento eu tenho que encontrar um lugar mais limpo pra habitar minha literatura barata, mas visceral e sincera, diferente dos seus acordes que não passavam de alegorias pra encantar garotas ébrias.

Suas balas eram de festim, as minhas de poesia: ferem só as costas de quem mente. E a gente mente, mente pra sobreviver, pra não destruir, pra desarmar, pra prender nos braços o que já teve asas. A gente mente pra passar a noite em paz, mente até que ama, acredita quem pode, fica quem quer.

E eu não fiquei, porque no fundo a beleza desse seu “amor” era tão frágil como uma mentira bem contada.

Sabia sim, dos riscos que corria ao partir, de perder minha mentira preferida, perder a falácia que me fazia sorrir, logo eu que não sou de sorrir, logo eu que não sou de acreditar.

Arrepender-me?

Pra quê?

Mostre-me um relógio que faça o tempo voltar que talvez arrependimento faça sentido, me mostre uma foto antiga de um beijo de amor (meu, não seu) que eu grito para o vento que não sei me arrepender e que não faz mais sentido nem me lamentar.