quinta-feira, março 05, 2015

Inferno astral

Não, eu não sou como as outras garotas, eu não sou o padrão de mulher que vai agradar todo tipo de homem. E quero que se foda tudo isso. Ou gosta de mim e vê a beleza de um rosto que parece que acabou de acordar, de um cabelo que eu não sequei, da maquiagem que eu não passei, ou pode atravessar a rua, fingir que nunca me viu dormir...
Não, não há nada de errado em não ver necessidade em parecer artificialmente bela.
Não tenho tido vontade de levantar da cama, ou de tirar a ccabeça do vão entre a cama e a parede. Tenho duvidado das minhas virtudes e deturpado meu valor por não suportar estar sozinha. Por não conseguir morar com uma barata e não conseguir administrar o desespero do pavor de matá-lá. Por amar o que já existiu entre duas pessoas.
Não conto vantagens, não participo de nada, não quero, não tenho paciência e não vejo graça em nada. Não me vejo em nada. Nem mais naqueles olhos que me abrigavam.
No entanto, experimentar essa sensação de mulheres de mais idade só me reforça que eu ainda sou muito nova pra passar por isso. E que sim, eu ainda sou apaixonante...
Eu só consigo pensar na tristeza de ver como as relações humanas se estreitam e como nada sobra. Quando não se tem mais nada, nada mais se irá perder... Que seja. A porra da vida sempre continua. Toda filosofia se contradiz. E todo amor se acaba.
Sou cansativa pra caralho, eu sei.
Talvez deva desistir dessa cidade também, talvez deva aceitar ou me tornar fria como essa falta de afeto deseja.
Não adianta!
Você dá seu melhor, você acredita que pode ser você mesmo, se mostra sem disfarces e só se fode engolindo gelo e vendo nada disso mais importar.
Ai você entra no seu casulo, na caixa de fósforo que você tem que pagar pra morar, da luz que você nem usa, mas tem que quitar. Da pia que denuncia a louça que você não gosta de lavar
.
Pensa ter falhado nessa aventura do viver as próprias custas... Repete roupas velhas, vê o desgaste do seus sapatos e não tem dinheiro nem pra manter sua única vaidade que é seu cabelo. Aliás, você nem se lembra mais como é ter dinheiro, tampouco, o sabor de um longo beijo molhado de língua. Se alimenta de restos de afetos que alguma outra bem mais medíocre que você teve por inteiro.
E março preenche todas as suas lacunas com trevas e desgosto.
Sua vida é um filme de terror de quinta e já não sabes o que é real.
Alguma saudade da sua mãe e a saudade que você nem sabe mais mensurar do pai.

Uma babaca ingênua acreditando em sentimentos que não existem mais.

Só quero dormir. Nem mato o tempo, deixarei ele me matar.


Ação, reação.
Escolhas, conseqüências.

Quanto mais você se abre, mais querem te rasgar...