sexta-feira, setembro 14, 2018

Poema novo sobre o que sobrou do antigo
Lembro dos nossos pés inquietos na calçada,
a fumaça dos nossos cigarros clandestinos,
nosso riso era desesperado e tinha o mesmo peso das nossas lágrimas.
A juventude fomenta o imaginário,
tínhamos todas as cores nos olhos,
as vestes negras de sapatos pesados,
se algo viria seria a revolução- acreditávamos.
Hoje vejo o envelhecer de rostos que na minha memória morrerão jovens,
noto que cada um se acabou em suas próprias batalhas,
que o veneno do suor da derrota deturpou a beleza de suas faces.
Quando no meu HD colecionava ilustrações de garotas tristes armadas,
muita canção de morte
mas que me caía como a vida.
Sempre fui poeta de versos longos
densos e cansativos como pensamento que não deixa dormir,
insônia sempre foi mato no deserto da minha inquietude.
Hoje já não fumo mais
(também não faço idéia do que será dos anos a mais que ganhei com isso)
não faço uso de computadores
e tenho ojeriza á armas.
Sinto medo,
asco,
mastigo as palavras pra definir o quadro político brasileiro.
Uma certeza: é extremamente urgente fazer poesia nos dias de hoje,
é totalmente dispensável aquilo que não for empático e humano,
está todo mundo sangrando,
se não puder estancar
não se alimente do sangue de outrem,
não meta o dedo em opressão que não te atinge.

(Amanda Cristina Carvalho)

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