quinta-feira, fevereiro 06, 2014

O AMOR SÓ PODE EXISTIR ENTRE ASPAS QUANDO SAI DA SUA BOCA


A impressão dilatada e vazia do amor que se faz de morto é muito peculiar como os sonhos que nos esquecemos de sonhar.

É como quando não se ouve um conselho de mãe e mais do que molhado, se volta rasgado e sem partes das unhas e da alma pra casa.

Quando que a lança torta do amor afeta nossa consciência e enferruja o sorriso da nossa ternura?

Por que nossos corpos se perdem entre mãos que não são as que conhecemos?

Gostamos mesmo dessas noites ou apenas procuramos engolir com vinho o que não suportamos durante o dia?

Das vontades, dos medos, dos nós na garganta todos temos que suportar fingindo ser fortes... Porém, até onde vai o que de leviano nos separa do amor?

E a quem cabia mesmo o amor? Ele vai pra onde quando nossas línguas destilam venenos novos?

Não tenho vocação pra vítima, tampouco, para um falso moralismo, somos livres até quando estamos presos, a eternidade não é culpa, é bônus pra quem é sincero... Mas, se eu te encontrasse na rua, eu apenas queria te perguntar de quantas mentiras era feito aquele seu tal “amor”. De quais cores você se lembra quando pensa em mim... E qual foi o gosto da boca que não era a minha.

Não me preocupo mais em entender seus temores, seu repúdio ao sonhar, sua paranoia em ver cenas que não estavam no filme... E qual seria o gênero do nosso filme? Qual tipo de novela poderíamos criar com as palavras que você não disse por mera maldade quando eu precisava ouvir?

Qual tom de cinza dos seus olhos se apresentou pra ela?

Ela sabia dançar ao som do seu silêncio com tanta graça quanto eu dancei? Que sabor teve sua saliva ao vê-la partir com outro? Ainda mais um outro tão conhecido.

Talvez, eu tenha todas essas respostas, quem sabe virar passado me dê uma moldura bem bonita na parede da sua memória.

Mas, não tem nada de bonito, de moldura, de dança... Não tem nada não. Somos dois delituosos, a diferença é que você é sádico e eu sou só indulgência.

Não sustentarei mais uma saudade que não me ampara. E me dá aflição só de imaginar o som fúnebre da sua voz contando mentiras doces, blasfemando aquele sentimento lá... Aquele que agora eu nem sei se existe ou pra quê tipo de ilusão serve: o amor (piada com meu nome nas mesas dos bares que você frequenta).

Então está selado o nosso fim, logo nós, e nem tivemos a chance de tomar uma cerveja pra velar aquilo que um dia eu chamei de amor.

Todas as palavras “amor” deste relato poderiam ser substituídas por chocolate, insônia, abraços demorados, canções, semi-sorrisos, volúpia, lágrimas, saudade, renúncias, sorrisos cabais, vodca, madrugadas inteiras de beijos, danças, insistência, euforia e tudo que ilude e faz pensar que é amor. Mas, da sua parte nunca foi amor.

Eu estou olhando para o  nada e buscando sensação correspondente pra essa situação, não sei dos seus erros qual deles me expõe mais idiota diante os olhos do mundo.

Mas, não é o mundo que me preocupa, é o meu mundo que eu construí baseado nas suas palavras falsas, na sua inconstância, na sua violência e desejo que me deixa tão perplexa e confusa assim.

Agora é tarde. Sempre foi tarde?

Com quais versos eu canto a poeira que ainda está nos meus olhos de tudo isso que não ficou?

Se eu não moro mais no seu pensamento eu tenho que encontrar um lugar mais limpo pra habitar minha literatura barata, mas visceral e sincera, diferente dos seus acordes que não passavam de alegorias pra encantar garotas ébrias.

Suas balas eram de festim, as minhas de poesia: ferem só as costas de quem mente. E a gente mente, mente pra sobreviver, pra não destruir, pra desarmar, pra prender nos braços o que já teve asas. A gente mente pra passar a noite em paz, mente até que ama, acredita quem pode, fica quem quer.

E eu não fiquei, porque no fundo a beleza desse seu “amor” era tão frágil como uma mentira bem contada.

Sabia sim, dos riscos que corria ao partir, de perder minha mentira preferida, perder a falácia que me fazia sorrir, logo eu que não sou de sorrir, logo eu que não sou de acreditar.

Arrepender-me?

Pra quê?

Mostre-me um relógio que faça o tempo voltar que talvez arrependimento faça sentido, me mostre uma foto antiga de um beijo de amor (meu, não seu) que eu grito para o vento que não sei me arrepender e que não faz mais sentido nem me lamentar.

2 comentários:

Adriano disse...

Mais uma vez um texto sensacional. Adorei!
Gostaria muito de saber o que o inspirador diria após lê-lo. Rsrs
Pois é Amanda, as ruínas são realmente "doces", ainda mais quando elas são causadas por seu construtor, aquele mesmo que um dia fez aquela promessa de garantia como na construção do Titanic "Eu lhes garanto que nem Deus o afunda!" Mas temos de encarar como numa estrofe da música Guerrilha Verbal do Black Alien: "Pode jogar o peso em cima dos meus ombros que eu aguento, não me assombro, me levanto dos escombros como cubanos dançando mambo".

amanda disse...

Eu também adoraria saber a opinião do inspirador, mas nunca saberei, só se perguntar, e tô de boa rs.

E o lance é esse mesmo cair, levantar e dançar!

Valeu por ler e pelas palavras.
Cê mora aqui ó: <3